quarta-feira, 5 de maio de 2010

A exploração continua forte

Antigas, velhas, novas e novíssimas elites


Recentemente descobriram mais um fóssil, um dos elos que os cientistas procuram para explicar a evolução do ser humano, sua gênese física. Mais complexa, contudo, é a formação cultural, comportamental, política e pessoal do que chamamos simplesmente de “gente”.

Os antropólogos estão aí para isso e os sociólogos, psicólogos e psiquiatras podem construir suas teses com o apoio de historiadores, cada um contando fatos e lógicas ao sabor de suas convicções.

Seja qual for o caminho chegamos ao que somos, cada povo com maneiras próprias, cada indivíduo com suas razões para ser líder, submisso, covarde, corajoso, alienado ou militante de alguma causa etc.

No Brasil a impressão que temos é a de que somos omissos, incapazes de reagir. Talvez os traficantes e policiais, os jovens na luta a favor e contra as drogas digam o contrário, afinal arriscam suas vidas de maneira total, a favor e contra um vício mortal.

Por outro lado notamos inércia, ausência de lutadores, de pessoas dedicadas aos interesses do povo.

Na década de oitenta parecia que teríamos uma nova geração de políticos. Talvez por efeito das pastorais que o Vaticano castrou em seguida, ganhamos, durante um tempo, pessoas atentas ao governo, às elites, aos interesses populares. Betinho e Frei Beto foram grandes líderes dessa época e nossa Dra. Zilda Arns ganhou inspiração para seu trabalho. Chegamos a eleger um sociólogo para a Presidência da República, começando aí nossa perplexidade, afinal ele nos mandou, de cara, esquecer seus discursos.

Onda neoliberal, demonizaram as estatais e partimos para a privatização de grandes e pequenas concessionárias. Venda estranha foi essa. Com o dinheiro do FAT (BNDES), isenções fiscais, avaliações canhestras e leilões feitos ao gosto daqueles que mandavam, os setores siderúrgico, ferroviário, energético, telecomunicações etc. passaram ao comando privado (ou de fundações das estatais) ou, simplesmente, extintos (DNOS, BNH e EBTU, por exemplo).

De todos os setores o que mais foi usado como motivo de júbilo da qualidade do processo foi o da telefonia.

Erro para os dois lados. Se os compradores esperavam lucros fabulosos, erraram diante das mudanças tecnológicas que reduziram drasticamente os custos de infraestrutura, facilitando a existência de novas empresas, competição. Vieram poucas, afinal o cartel era forte e apoiado por normas, regras e leis estranhas.

As mudanças surpreenderam ou foram oportunidades de muitos faturarem. Empresas de telefonia compraram montanhas de cabos de fibras óticas, que acabaram em depósitos sem uso. Um parzinho de fibras multiplicou-se em centenas com artifícios eletrônicos e de software, centrais analógicas gigantescas se reduziram a pequenas cabines cheias de computadores e “no breaks”, os celulares vieram para dispensar redes de fios caríssimas e por aí afora.

O jogo passou para as tarifas, os cartéis, a má fiscalização, uso da mídia e cooptação de políticos.

Criaram custos em cima da inércia de parâmetros antigos de modo a não perderem muito dinheiro, ao contrário, ganhar convencendo o povo a trocar de aparelho constantemente e com isso camuflando um serviço que deveria ser infinitamente melhor e mais barato.

A estratégia para tantas artimanhas demandava agências e fiscais submissos, ministros cooptados, anúncios constantes em sistemas de comunicações, de aliados dentro e fora do governo, ou seja, montar um tremendo esquema de suporte para enfrentar as queixas, reclamações, os “comunistas” como gostam de rotular quem reage ao poder dessas elites porcas. E ganhamos novas elites a peso de ouro. De repente o guerrilheiro dos tempos militares transformou-se em figurino ambulante e especialista em vinhos e carros estrangeiros. Enquanto comem mel e se lambuzam o povo permanece na m..

Felizmente teremos eleições e se os esquemas partidários são feitos para que nada mude, no meio das centenas de candidatos a deputado à disposição dos eleitores deveremos ter gente boa, séria e talvez incorruptível; vamos garimpar bons candidatos, precisamos de quem nos defenda dessas novas, antigas e velhas elites.



Cascaes

5.5.2010

Um comentário:

Luis Eduardo Knesebeck disse...

Cascaes.

Dois pontos:

- a exemplo do setor de energia eletrica, o setor de telecom foi privatizado sem um bom marco regulatorio. A Lei Geral de Telecomunicações, que, pelo que sei, foi ou esta sendo alterada, ainda não da suporte aos serviços, na forma do que se usa chamar “convergencia de base tecnológica” (a integração das comunicações, da informática e do conteúdo digital). Já a ANATEL, criada mas não suficientemente estruturada ainda, continua, como nos clientes, refém das empresas de telefonia. (Não consegui ainda convencer-me que elas são dispensáveis...)

- Internet: hoje noticiou-se que a Telebrás passara a operar a banda larga na administracao publica federal e nos locais de difícil acesso. De posse da extraordinária infraestrutura de cabos óticos, herdada de administrações anteriores, ela dispõe de instrumental para expandir significativamente o acesso aos recursos da Internet pela população brasileira. Já no caso do nosso Paraná, voltamos a lembrar o papel da Copel Telecom e do projeto BEL – Banda Extra Larga. Nossa estatal paranaense pode, com extraordinária facilidade, auxiliar ou mesmo substituir a estatal federal neste produto!

Luis Eduardo Knesebeck