DEUS LEGARIA COMPETÊNCIA E RESPONSABILIDADE
APENAS AOS PODEROSOS?
O simpósio sobre desarmamento nuclear só serviu para confirmar o “status” assumido e imposto pelas potências militares, detentoras daquele poder de dissuasão definitivo, de únicas privilegiadas com elites competentes e responsáveis para administração de um desiderato que, têm consciência, jamais poderão abdicar sob pena de comprometerem a sua própria garantia de sobrevida. Não é preciso ser muito inteligente para entender que os EUA não vão deter os milhões de chineses, que podem ser mobilizados da noite para o dia com armamento convencional de altíssimo nível, sem suas ogivas. Raciocínio semelhante pode ser feito para ingleses e franceses em face da Rússia que se debruça, de forma natural, mas sobretudo fatal, sobre a União Européia, podendo se afirmar o mesmo sobre a Índia e o Paquistão, entre si e em relação ao “grande dragão amarelo”.
Curiosa e intrigantemente, a comunidade internacional, fruto de uma lavagem cerebral insidiosa de alguns “interessados”, assimilou a idéia de que apenas esses países possuem a competência e a responsabilidades exigidas para disporem de tal poder de destruição. As “pequenas potências atômicas”, se é que podemos chamá-las assim, entretanto, não desenvolveram seus projetos por mero diletantismo. Que ninguém duvide, Israel pode ser realmente “varrida do mapa” pelos muçulmanos se não dispuser de seus artefatos. A Coréia do Norte e o Irã, integrantes do “eixo do mal induzido na era Bush”, estão correndo atrás porque testemunharam a intervenção americana no Iraque, que nunca possuiu as armas de destruição em massa de que era acusado. Por que razão seus governantes não teriam a mesma noção do perigo em apelar para esse poder, a não ser na extrema necessidade da manutenção de sobrevida de seus povos?
Não é lúcido pensar que qualquer desses países, grandes e pequenas potências nucleares, vá fazer uso deste armamento por motivo fútil, Todavia, estas últimas confiam nele tão somente para dissuadir as, já costumeiras, depredações perpetradas pelas “coalizões de soldados universais” e ameaças do “mundo árabe”,não visualizando como abdicar do último trunfo de que disporiam. É de se pensar, com que autoridade moral o único país que lançou bombas atômicas em seres humanos pode se arvorar como dono da verdade nesta problemática de contornos intencionalmente excludentes? Mahhmoud. Ahmadinejad pode ser autoritário e fanático, porém, convenhamos, nada mais justo que zele pela soberania da sua pátria e pela legitimidade de seu projeto energético, aspectos em que é apoiado sem restrições pela opinião pública iraniana.
Eis que cidadãos brasileiros, de reconhecido arcabouço intelectual nas áreas em que são especialistas, são chamados a discutir “em painel transmitido pela televisão” a posição do Brasil na última reunião de cúpula sobre desarmamento nuclear. É tiranicamente desalentador constatar como uma campanha subliminar de grandes potências, única e exclusivamente interessadas na manutenção de seus poderes de pressão e de ingerência, particular e especialmente sobre nações emergentes como a nossa, possa ter entorpecido a capacidade de avaliação daquelas personalidades. Um deles chegou a levantar, o que é grave, com o aval dos demais, que se o País não assina o protocolo complementar ao TNP, que viabiliza aos representantes da ONU a inspeção do nosso processo revolucionário de enriquecimento de urânio, de reconhecida supremacia tecnológica sobre os existentes na atualidade, a retaliação pode vir, por exemplo, sob a forma da não comercialização de componentes para a produção nacional de computadores.
Por Deus! O compromisso subserviente, que em tratado admitiu a incompetência de dispormos de poder dissuasório vital para a manutenção dos recursos da Amazônia e do pré-sal, já é imposto pela Constituição. O que querem mais estes senhores da guerra?
Paulo Ricardo da Rocha Paiva
Coronel de Infantaria e Estado-Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário