Um Poder que precisa ser limpo
A existência da Democracia e a convivência pacífica entre pessoas de qualquer nação dependem principalmente da sensação de equidade perante as leis existentes. Nada incomoda mais do que sentir-se injustiçado, espoliado, vítima de armações ilimitadas.
No Brasil em que indivíduos bem relacionados deram a impressão de se apropriar de empresas estatais e riquezas de nosso subsolo, sem falar em outros trambiques, é justo que os mais esclarecidos se irritem e aplaudam a Dra. Ângela Calmon. Ela se transformou em grande heroína dizendo o que muitos de nós pensávamos, pois precisamos acreditar no Poder Judiciário quando julga crimes bilionários defendidos por bancas caríssimas de advogados, usando filigranas da nossa legislação e jurisprudência que só alguns profissionais entendem. Vendo a violência tradicional contra infratores mais pobres, parece-nos não existir Justiça no Brasil.
Pior ainda, reportagens têm mostrado salários absurdos, regalias inacreditáveis e comportamentos que não condizem com um Poder tão nobre em tempos de Democracia, ainda que tenha perdido seu brilho com o julgamento dos mensalões e “autoridades” aparentemente mais do que suspeitos de crimes contra o Brasil.
Somos um povo educado para aceitar qualquer tipo de governo. Se tivemos mudanças foi graças principalmente a alguns poucos, que em momentos cruciais desafiaram as autoridades. Lamentavelmente, uma vez no Poder, raras lideranças resistiram à Corte de corruptores e grandes donos de senzalas.
Sempre a esperança é a última que morre.
Será que o Brasil está mudando?
Vemos nossa Presidente aceitando denúncias e substituindo pessoas que a desmoralizavam trabalhando mal. O povo mais esclarecido começa a questionar a FIFA e projetos estranhos. Alguns jornais assumiram corajosamente a defesa da moralidade, aceitando riscos monumentais. Via internet quem quer descobre muita coisa, ainda que de forma questionável. Estaremos realmente melhores? Perdemos o medo de perseguições e perdas de oportunidades de trabalho?
Nem tanto. Até incomoda sentir que organizações que poderiam fazer muito insistem em se manter na comodidade de discussões inúteis. A falta de objetividade em relação aos problemas nacionais assusta. Parece confirmar a divisão de classes onde as mais fortes ignoram as mais frágeis (bolsas e festas para elas).
Podemos e devemos aplaudir a Dra. Ângela Calmon. Que bom serviço está prestando ao povo brasileiro. E quantos desafios terá... Não pode, contudo, fazer tudo sozinha. As mordomias e salários absurdos em alguns tribunais, por exemplo, poderão ser limitados por efeito de leis e outras ações até impositivas. Compete ao povo reagir, forçar mudanças. Vemos, embevecidos, a atuação de massas populares que estão abalando estruturas de poder no Oriente Médio e norte da África, que pareciam intocáveis. Talvez não seja o caminho ideal nem para eles, mas demonstram de forma eloquente a forte indignação diante de poderes corrompidos e a força de um povo unido.
Queremos Governo com Justiça. Aceitamos até impostos e juros absurdos, burocracias intrigantes e fiscalizações perversas. Precisamos, contudo, de esperança de correções. Evitar a violência é importante. Todos sabem como as revoluções e as guerras começam, ninguém pode afirmar como terminarão. Evitar atos extremos é possível se, em tempo oportuno, o sistema de poderes se corrigir, aceitar revisões a favor da eficácia, honestidade, coerência com nossas leis mais importantes (temos leis que deveriam ser modificadas ou simplesmente eliminadas).
O povo brasileiro quer, anseia e aplaude o bom governo, do qual o Poder Judiciário é o grande pilar. Não queremos vê-lo desabar sobre a Democracia por fragilidade de suas estruturas e titulares.
Cascaes
3.2.2012
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