sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O Brasil em crise, por quê? Nossas concessionárias - o processo de privatização funcionou?

A privatização das estatais e os governantes de plantão
No império o estilo de D. Pedro II manteve o Brasil unido em torno de pessoas pouco criativas e morbidamente escravagistas [1].
A República nasceu de forma extravagante e gerou mais violência do que soluções. Demorou, mas depois de muitas constituições e sob o efeito de um cenário nacional e internacional terrível, como sempre foi o ambiente da Humanidade, tivemos a impressão de que poderíamos ser uma grande nação. O calvário nesse caminho merece estudos e análises de bons pesquisadores.
As dívidas e o Brasil apareceram com D. João VI [1] e nunca mais se afastaram de nossas contas externas.
Guerras, guerrinhas, conflitos de todas as cores e espécies travaram nossos governantes, ainda que eventualmente sérios e responsáveis. Mudanças de constituição e de padrões de governo foram um desastre. Sem estabilidade institucional e sendo muito grande o Brasil se nivelou por baixo [2].
Os serviços essenciais podem ilustrar bem o que foi e tem sido o Brasil, que até a crise de 1929 era objeto de atenção de grupos estrangeiros poderosos.
As estatais brasileiras surgiram por efeito da indiferença dos grandes investidores estrangeiros e abusos que cometiam contra o nosso povo, esse, pelo menos era o discurso. Infelizmente, por pressões de especialistas de aluguel e lideranças radicais não criamos indústrias e tecnologia nacional, apenas comprávamos o que era necessário para suprir as vaidades de alguns e o que era necessário para as rotinas da vida. Aqui estudamos muito a arte da manutenção e operação ao gosto das empresas, só.
Construímos empresas respeitáveis, apesar de tudo. A CSN [ [3], Vale do Rio Doce [4], Petrobras, Eletrobras, RFFSA [5], TELEBRAS, Caixa Econômica, EBTU, etc. cumpriram suas obrigações e também sofreram as maldades daqueles que puderam governá-las , assim como tiveram alguns períodos de glória. Empresas 100% estatais ou de capital misto foram necessárias em tempos de crises internacionais, quando o Brasil era a última prioridade de possíveis investidores, e depois para organizar um país que era uma tremenda colcha de retalhos insuficientes ao seu desenvolvimento.
Na área energética nosso país deslanchou na década de setenta para depois afundar vendo algumas de suas estatais pessimamente mal administradas e adotando um modelo de privatização (ou doação?) que transformou concessionárias e serviços essenciais em objeto de lucro, acima de tudo, fiscalizadas por agências torpedeadas sistematicamente (recursos contingenciados, autoridade dividida etc.). Agora enfrentam uma tremenda crise após uma sequência equivocada de ações federais recentes, a estiagem, atraso de obras estruturais e a especulação absurda (que mereceria uma auditagem exemplar).
O lucro é fundamental assim como os impostos que os governos cobram para manter suas estruturais, mas a corrupção e o desmazelo se transformaram em câncer devastador, elevando a base de cálculo de tarifas, preços e impostos.
Serviços essenciais e empresas estratégicas sempre foram objeto de atenção popular e desenvolvimento de empresas (estatais, mistas, privadas) com privilégios e apoios necessários e suficientes para que em países mais inteligentes o controle de suas atividades não fosse parar longe de suas fronteiras. Quando alguns países afundaram a internacionalização veio como uma forma de corrigir vícios e costumes exagerados, afinal os investidores estrangeiros pelo menos querem sucesso e lucro com suas empresas e a população pode cansar de administrações caóticas.
Empresas de interesse social precisam ter um padrão ético exemplar, de modo a poderem explicar e justificar seus custos, isso acontece? Principalmente as concessionárias são submetidas a auditorias independentes e competentes? Zelam pela transparência? No Brasil que empresas de auditoria independentes, bem estruturadas, sérias e livres de suspeitas estão em atividade por determinação de prefeitos, governadores e do sistema federal de vigilância? Pagamos tarifas justas?
Infelizmente os impostos sobre os serviços essenciais são pesados, ou seja, governantes dependem desse dinheiro para seus planos e assim os municípios, estados e a União se tornam parte interessada nos custos. Os votos são mais fáceis se ao final de mandato apresentarem uma “boa” administração e ações de midiáticas [6] impressionantes...
Tarifas devem ter valores definidos com extrema cautela e atenção a planos estratégicos bem definidos e debatidos com aqueles que dependem de seus serviços, sistemas e produtos. Isso é feito aqui?
O Brasil mais uma vez mergulha nos efeitos dos desgovernos existentes. Nesses últimos anos a verdade era proibida, privilégio de alguns. Muito mais agradável era repetir a mídia de políticos e partidos no comando, o nosso povo estava “ligado” na Copa do Mundo.
Os riscos conhecidos e escondidos e, para azar (ou sorte para alguns, pois teve gente que faturou alto) daqueles que decidem levaram nosso povo ao pesadelo atual. As piores hipóteses aconteceram. De repente descobrimos que as campanhas eleitorais recentes disseram tudo, menos a realidade dura e cruel que haveria em muitos lugares. Investimos muito para perder de 7 a 1. Tivemos partidos e políticos mais sinceros, mas o populismo [7] venceu nessa terra em que a escolarização em todos os níveis em grande escala é fato recente e cidadania é coisa rara.
Vamos pagar contas pesadas, perder benefícios, ser tratados como vilões, afinal sempre há o que dizer contra o povo, mais ainda se lideranças significativas e turbinadas por preconceitos estiverem em postos importantes.
E agora?
O ideal seria a renúncia coletiva dos eleitos e o TSE partir para novas eleições, pura ilusão, contudo, se acreditarmos que com os partidos políticos existentes e nosso povo desorientado pela realidade tomará decisões sensatas a favor do Brasil. Ou seja, o ideal pode ser uma tragédia, pois os mesmos terão o aval de duas eleições e depois: sai da frente!
Precisamos consultar espíritos e sábios para desatar o nó górdio em que estamos. Entre nós, os comuns, será prudente debater exaustivamente o que aconteceu e meditar, rezar, orar para que o exemplo do Juiz Sérgio Moro (mais o apoio do MPF e PF) seja valorizado firmemente de modo a que não contaminem processos com firulas jurídicas e políticas.
Além dos processos por ações dolosas confessadas e evidentes a qualquer cidadão medianamente informado, devemos rever lógicas de desenvolvimento e subordinação a interesses predatórios de investidores e políticos. Nosso povo não está no deserto e o maná não vai cair. Não teremos a “bondade” dos donos do dinheiro e das ações colocadas no mercado estrangeiro, por exemplo.
Precisamos, mais do que nunca, de correções dos pacotes tenebrosos criados no início desse ano e mudanças em nossa política fiscal; cansamos de pagar impostos, taxas, tarifas, encargos, carimbos etc. para compensar erros de toda espécie e sustentar a burocracia sufocante de inúmeras repartições públicas criadas para materializar leis bonitas e mal feitas.
A história das grandes estatais, das concessionárias de capital misto e privadas mostra de forma clara e inequívoca o sentimento de amor à Pátria, a farsa das ideologias e partidos políticos, o comportamento de corporações e em última instância o que é o ser humano, em suas virtudes e defeitos.
Onde nascemos, nessa terra rica e povo ainda inculto, mais uma vez estamos no meio de uma tremenda crise. Será a última? Vamos aprender a lição?
O Brasil merece uma recriação, de que jeito?

Cascaes
25.2.2015

[1]
J. C. Cascaes. [Online]. Available: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/.
[2]
J. C. Cascaes. [Online]. Available: http://o-irredento.blogspot.com.br/.
[3]
“Criação da Companhia Siderúrgica Nacional,” [Online]. Available: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/EstadoEconomia/CSN.
[4]
“Vale S.A.,” [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_S.A.. [Acesso em 27 2 2015].
[5]
D. A. /. L. L. d. Santos., “A Ferrovia Atualmente,” 26 2 2015. [Online]. Available: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/ferrovia-130-anos/a-ferrovia-atualmente.jpp.
[6]
J. C. Cascaes. [Online]. Available: http://querendo-entender-filosofia.blogspot.com.br/.
[7]
F. S. Araujo, “Populismo,” [Online]. Available: http://www.infoescola.com/politica/populismo/.



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