Da fantasia para a realidade
O povo brasileiro é apaixonado por fantasias, mas também
mostrou muitas vezes que pode ser enérgico, crente, fiel a ideais e esperanças
na Terra e no Céu. A história brasileira tem um roteiro muito diferente de
outros países latino-americanos, talvez por isso as diferenças sejam tão
grandes. Nossas piores guerras foram internas e as dívidas parecem ser eternas...
A vinda da família imperial portuguesa para esse refúgio
tropical (com a proteção da Inglaterra) [ [1] , [2] ] foi o primeiro
passo para a formação de um país centralizador (colônia dos estados mais
fortes?) que teria tudo para ser uma federação de estados independentes [3] . A presença da corte
lusitana nesse espaço continental viabilizou um Império contínuo, sem oceanos
ou cordilheiras separando suas unidades, mas juntando povos e culturas
extremamente diversificadas desde seu início.
A separação do Brasil de Portugal foi pura consequência do
nacionalismo exacerbado e inconsequente da luta pelo poder em Portugal [4] , desunindo um
império que teria condições de se desenvolver com mais cores e melhores
efeitos. O Brasil isolado [5] , contudo,
cristalizou uma cultura própria, boa ou má, dependendo dos pontos de vista.
O modelo norte americano de organização institucional e as
revoluções europeias e seus teóricos geraram nessa terra uma mistura de amor à
liberdade e excessos que oscilam entre ditaduras tolerantes (em relação às
elites civis) e processos democráticos.
Acima de tudo a desonestidade de elites mal formadas
transformou-se num câncer que nos afeta; falsidades que criam ilusões e
panaceias oportunistas, além de partidos políticos completamente destoantes de
suas promessas, desmoralizam qualquer proposta ideológica.
Aqui vale, só para lembrar frases e livros sugeridos em
comentários publicados (não tão distantes) do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso (Esqueçam meus discursos) [6]
em sua vida política e acadêmica (Esqueçam o que escrevi) [7] para tentar
compreender o dilema de ser presidente do Brasil e ser eleito para tanto...
As grandes revoltas, golpes, quarteladas, revoluções,
sublevações nos dois séculos de existência do Brasil “independente” vieram pela
inconformidade (muitas vezes corporativa) e falta de boa gerência interna.
O nosso desafio de construir um Brasil melhor está, mais uma
vez, em processo de ressaca brutal. A ilusão de que o mal deve ser feito no
início de mandatos e de uma vez pode se transformar em calvário para prefeitos,
governadores e a Presidência da República (sem falar nas famosas “bases
aliadas”, mais do que oportunistas) diante da reação popular, que talvez seja
forte apesar da tecnologia criada para desmoralização das manifestações
populares após junho de 2013.
As desculpas dos defensores dos atuais governantes não são
aceitáveis para se ver com simpatia suas decisões. A partir de 2007 [8] o gerenciamento de
nosso país deveria ter sido mais cauteloso pois existiam indicações fortes de
crise na Argentina (agora uma realidade triste), Europa e até nos EUA além das
mudanças climáticas gradativas e inexoráveis na insistência em modelos
alienados de “desenvolvimento”, déficits sucessivos na balança de pagamentos e
compromissos do Brasil, finalmente, a descoberta que matou de vez a alegria
nacional, a imensidão da corrupção, onde o caso Petrobras é um exemplo do que
acontece numa grande estatal, mas é apenas a ponta do iceberg se de fato outros
inquéritos se estenderem a muitos possíveis carteis e formas de crime
organizado.
Felizmente o mundo ocidental caminha para a criminalização
da corrupção, algo inaceitável em sociedades que dependem do mercado de capitais
para a sustentação dos fundos de previdência (por exemplo) aqui e em todos os
países capitalistas [9] , o que justifica a
reação enérgica além fronteiras após a Operação Lava Jato e no caso argentino.
A corrupção no Brasil vai muito além dos impactos na CVM e
investidores, ela afeta violentamente os custos, a qualidade e a confiabilidade
de projetos, obras e operação de concessionárias estatais e privadas. Os
processos existentes demonstram que a leniência, omissão e cooperação com os
grandes corruptores é nossa desgraça contumaz.
Diante de tudo isso nossos governantes reagem como se os
brasileiros fossem idiotas: aumentam impostos, taxas, tarifas, encargos etc. [o
que fazem as agências reguladoras [10] , ministérios,
secretarias?] e não atuam energicamente na otimização do Estado (municípios,
estados e União).
Resumindo, o carnaval está no final, as fantasias vão para
os guarda-roupas e a realidade voltará em cena, a dúvida é quando? como? onde? quanto?
Os eleitos, alguns reeleitos, terão competência e vontade de
corrigir erros e vícios crônicos?
Cascaes
17.2.2015
[1]
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L. Gomes, “1808 -
Família Real no Brasil,” [Online]. Available:
http://querendo-entender-filosofia.blogspot.com.br/2015/02/1808-familia-real-no-brasil.html.
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[2]
|
L. Gomes, “1808,” [Online].
Available:
http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/02/1808.html.
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[3]
|
J. C. Cascaes.
[Online]. Available: http://o-irredento.blogspot.com.br/.
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[4]
|
L. Gomes, “1822,”
[Online]. Available: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/05/1822.html.
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[5]
|
J. C. Cascaes.
[Online]. Available: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/.
|
[6]
|
I. ABDALA, “Esqueçam
o que eu disse,” 17 2 1999. [Online]. Available:
http://www.istoe.com.br/reportagens/28743_ESQUECAM+O+QUE+EU+DISSE.
|
[7]
|
F. D. B. E. SILVA,
“Em livro, FHC faz limonada da frase "esqueçam o que escrevi",” 24
4 2010. [Online]. Available:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2404201020.htm.
|
[8]
|
“Grande Recessão,”
Wikipédia, [Online]. Available:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Recess%C3%A3o.
|
[9]
|
“Previdência
privada,” Wikipédia, [Online]. Available:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Previd%C3%AAncia_privada.
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[10]
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“Agências
Reguladoras,” [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_reguladora.
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