terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O carnaval está acabando - recomeça a realidade

Da fantasia para a realidade
O povo brasileiro é apaixonado por fantasias, mas também mostrou muitas vezes que pode ser enérgico, crente, fiel a ideais e esperanças na Terra e no Céu. A história brasileira tem um roteiro muito diferente de outros países latino-americanos, talvez por isso as diferenças sejam tão grandes. Nossas piores guerras foram internas e as dívidas parecem ser eternas...
A vinda da família imperial portuguesa para esse refúgio tropical (com a proteção da Inglaterra) [ [1], [2]] foi o primeiro passo para a formação de um país centralizador (colônia dos estados mais fortes?) que teria tudo para ser uma federação de estados independentes [3]. A presença da corte lusitana nesse espaço continental viabilizou um Império contínuo, sem oceanos ou cordilheiras separando suas unidades, mas juntando povos e culturas extremamente diversificadas desde seu início.
A separação do Brasil de Portugal foi pura consequência do nacionalismo exacerbado e inconsequente da luta pelo poder em Portugal [4], desunindo um império que teria condições de se desenvolver com mais cores e melhores efeitos. O Brasil isolado [5], contudo, cristalizou uma cultura própria, boa ou má, dependendo dos pontos de vista.
O modelo norte americano de organização institucional e as revoluções europeias e seus teóricos geraram nessa terra uma mistura de amor à liberdade e excessos que oscilam entre ditaduras tolerantes (em relação às elites civis) e processos democráticos.
Acima de tudo a desonestidade de elites mal formadas transformou-se num câncer que nos afeta; falsidades que criam ilusões e panaceias oportunistas, além de partidos políticos completamente destoantes de suas promessas, desmoralizam qualquer proposta ideológica.
Aqui vale, só para lembrar frases e livros sugeridos em comentários publicados (não tão distantes) do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Esqueçam meus discursos) [6] em sua vida política e acadêmica (Esqueçam o que escrevi) [7] para tentar compreender o dilema de ser presidente do Brasil e ser eleito para tanto...
As grandes revoltas, golpes, quarteladas, revoluções, sublevações nos dois séculos de existência do Brasil “independente” vieram pela inconformidade (muitas vezes corporativa) e falta de boa gerência interna.
O nosso desafio de construir um Brasil melhor está, mais uma vez, em processo de ressaca brutal. A ilusão de que o mal deve ser feito no início de mandatos e de uma vez pode se transformar em calvário para prefeitos, governadores e a Presidência da República (sem falar nas famosas “bases aliadas”, mais do que oportunistas) diante da reação popular, que talvez seja forte apesar da tecnologia criada para desmoralização das manifestações populares após junho de 2013.
As desculpas dos defensores dos atuais governantes não são aceitáveis para se ver com simpatia suas decisões. A partir de 2007 [8] o gerenciamento de nosso país deveria ter sido mais cauteloso pois existiam indicações fortes de crise na Argentina (agora uma realidade triste), Europa e até nos EUA além das mudanças climáticas gradativas e inexoráveis na insistência em modelos alienados de “desenvolvimento”, déficits sucessivos na balança de pagamentos e compromissos do Brasil, finalmente, a descoberta que matou de vez a alegria nacional, a imensidão da corrupção, onde o caso Petrobras é um exemplo do que acontece numa grande estatal, mas é apenas a ponta do iceberg se de fato outros inquéritos se estenderem a muitos possíveis carteis e formas de crime organizado.
Felizmente o mundo ocidental caminha para a criminalização da corrupção, algo inaceitável em sociedades que dependem do mercado de capitais para a sustentação dos fundos de previdência (por exemplo) aqui e em todos os países capitalistas [9], o que justifica a reação enérgica além fronteiras após a Operação Lava Jato e no caso argentino.
A corrupção no Brasil vai muito além dos impactos na CVM e investidores, ela afeta violentamente os custos, a qualidade e a confiabilidade de projetos, obras e operação de concessionárias estatais e privadas. Os processos existentes demonstram que a leniência, omissão e cooperação com os grandes corruptores é nossa desgraça contumaz.
Diante de tudo isso nossos governantes reagem como se os brasileiros fossem idiotas: aumentam impostos, taxas, tarifas, encargos etc. [o que fazem as agências reguladoras [10], ministérios, secretarias?] e não atuam energicamente na otimização do Estado (municípios, estados e União).
Resumindo, o carnaval está no final, as fantasias vão para os guarda-roupas e a realidade voltará em cena, a dúvida é quando? como? onde? quanto?
Os eleitos, alguns reeleitos, terão competência e vontade de corrigir erros e vícios crônicos?

Cascaes
17.2.2015

[1]
L. Gomes, “1808 - Família Real no Brasil,” [Online]. Available: http://querendo-entender-filosofia.blogspot.com.br/2015/02/1808-familia-real-no-brasil.html.
[2]
L. Gomes, “1808,” [Online]. Available: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/02/1808.html.
[3]
J. C. Cascaes. [Online]. Available: http://o-irredento.blogspot.com.br/.
[4]
L. Gomes, “1822,” [Online]. Available: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/05/1822.html.
[5]
J. C. Cascaes. [Online]. Available: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/.
[6]
I. ABDALA, “Esqueçam o que eu disse,” 17 2 1999. [Online]. Available: http://www.istoe.com.br/reportagens/28743_ESQUECAM+O+QUE+EU+DISSE.
[7]
F. D. B. E. SILVA, “Em livro, FHC faz limonada da frase "esqueçam o que escrevi",” 24 4 2010. [Online]. Available: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2404201020.htm.
[8]
“Grande Recessão,” Wikipédia, [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Recess%C3%A3o.
[9]
“Previdência privada,” Wikipédia, [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Previd%C3%AAncia_privada.
[10]
“Agências Reguladoras,” [Online]. Available: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ag%C3%AAncia_reguladora.








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