De: Adriano Benayon
[mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: quarta-feira, 3 de julho de 2013 00:21
Para: 'Lia Maria Ribeiro de Moura'
Assunto: artigo: Para onde?
Enviada em: quarta-feira, 3 de julho de 2013 00:21
Para: 'Lia Maria Ribeiro de Moura'
Assunto: artigo: Para onde?
Para onde?
Adriano
Benayon * – 01.07.2013
Por
que milhões de pessoas vão às ruas manifestar-se, mesmo sem ter tido
conhecimento dos passos mais recentes dados pelos poderes do Estado no sentido
da destruição do País?
2.
Claro que para revoltar-se nem precisam estar bem informados. Basta sentir os
sofrimentos decorrentes de problemas que continuam agravando-se : 1)
transporte público insuportável e, além disso, nas grandes cidades,
transporte particular inviabilizado pelo excesso de veículos; 2) acesso
difícil ou inexistente a serviços públicos de saúde e de educação, de
alguma qualidade, além de, no âmbito privado, preços absurdos sem
qualidade correspondente; 3) salários baixos; 4) preços elevados, em mercados
dominados por empresas e bancos concentradores; 5) impostos e taxas numerosos e
custosos.
3.
Credita-se ter desencadeado a faísca ao Movimento do Passe Livre (MPL), baseado
em São Paulo e outras cidades, organizado há anos e voltado para objetivos
justos, embora limitados
4.
O momento em que surgiram os protestos devidos ao aumento das passagens de
ônibus em São Paulo, coincidiu com os jogos da Copa das Confederações, a qual
expôs os superfaturamentos e outros absurdos ligados à construção dos estádios.
5.
É compreensível que associem esses gastos suntuários às carências no
atendimento das necessidades da população.
6.
Falta, porém, elevar mais o número dos manifestantes e motivá-los a lutar pela
erradicação das verdadeiras causas das desditas do povo. Para isso é
urgente disseminar, para dezenas de milhões de brasileiros, as informações
econômicas e políticas relevantes.
7. Dizer-lhes, por exemplo: Os gastos com a dívida pública
absorveram 43,98% dos recursos federais em 2012. Mais de R$ 750 bilhões. Para
a saúde foram destinados somente 4,17% desses recursos;3,34% à educação; 0,7
aos transportes; 0,39% à segurança e 0,01% à habitação.
8.
Os R$ 750 bilhões para a dívida equivalem a quase o total dos
investimentos públicos e privados no mesmo ano. Significa que se esse dinheiro
fosse investido produtivamente, em vez de dilapidado em despesas financeiras, poderiam
ser dobrados os gastos realizados na produção e na geração de
empregos.
9. Desde 1988 foram gastos 10
trilhões de reais com a dívida pública. Um trilhão é mil vezes um bilhão, e um
bilhão é mil vezes um milhão, que é mil vezes mil.
10. De onde veio isso: A indústria e
os mercados são controlados por empresas estrangeiras, que remetem dinheiro ao
exterior de mais de quinze modos. Os bens e serviços que vendemos são
subfaturados, e os que compramos são superfaturados.
11. Então se acumulam as dívidas. O
produto de nosso trabalho, os nossos minérios, a produção agrícola, tudo é
mandado para o exterior por quase nada, e o governo ainda premia os
exportadores e os isenta de ICMS e contribuições sociais.
12. Por que é assim? Os
políticos recebem dinheiro das empresas e bancos concentradores para as
eleições e dependem também das TVs comerciais e imprensa, tudo ligado aos
concentradores financeiros.
13. Por isso o problema dos investimentos
produtivos não é só serem poucos, mas serem mal escolhidos e realizados. Tudo é
desenhado, orientado para o ganho dos concentradores: transportes,
educação, saúde, telecomunicações e energia.
14. E também: O transporte está ruim?
Lógico, as ruas estão entulhadas com veículos produzidos por montadoras
estrangeiras, às quais o governo federal, os estaduais e os municipais
dão prêmios e isenções de centenas de bilhões de reais. E não construíram
linhas de metrô. Por isso o trabalhador se desgasta durante cinco horas por dia
dentro das conduções. Não se fazem tampouco hidrovias nem ferrovias para
transportar passageiros e cargas.
15. A corrupção tem efeitos muito mais
graves que os percebidos pela grande maioria dos brasileiros. Esta se
indigna diante dos casos de enriquecimento, na ordem de milhões de reais, dos
políticos e agentes públicos, que a grande mídia resolve expor, poupando os
corruptos mais ligados aos interesses estrangeiros.
16. O povo não protesta, ainda, com a
devida força, contra as lesões praticadas pelo atual governo ao patrimônio
público nos leilões de petróleo - trilhões de dólares entregues
praticamente de graça a petroleiras estrangeiras - nem contra a gradual
destruição da Petrobrás.
17. Ainda por cima Executivo e
Legislativo fazem demagogia decretando que 75% dos royalties do petróleo sejam
carreados para a educação e 25% para a saúde. Ora, esses percentuais
incidem sobre praticamente nada, além de a produção ainda demorar, os royalties
são 10% das receitas subdeclaradas (o governo não controla o que sai).
18. Ainda se manifesta pouco contra
as concessões de ferrovias, portos e aeroportos financiadas pelo BNDES.
Igual com os empréstimos de grande vulto para empresas concentradoras e para as
parcerias público-privadas nos investimentos de infra-estrutura, em que o
setor privado tem lucros garantidos pelo Estado, sem sequer investir.
19. Não se mostra ao povo de que modo os
bancos obtêm ganhos colossais. Apenas três bancos privados - Itaú,
Bradesco e Santander - somam lucros anuais de R$ 30 bilhões, emprestando
e aplicando dinheiro dos depositantes. E o art. 164 da Constituição obriga o
Banco Central a financiar somente os bancos, proibindo-o de financiar o próprio
Tesouro Nacional.
20. Ignoram-se, ainda, os prejuízos de
trilhões de reais que resultaram das privatizações de FHC, como a da Vale, a do
BANESPA, dado ao Santander, e as das siderúrgicas. E as de serviços públicos
extorsivos e deficientes, como a eletricidade e as telecomunicações.
21. Nem falam das antigas estradas
construídas com dinheiro público, mal conservadas e entregues a
concessionárias, que se cevam através de absurdos pedágios. E ninguém constroi
novas.
22. Está, pois, na hora de o povo ser
informado do que precisa saber para exigir instituições que revertam a
lastimável situação do País.
23. Conscientizá-lo de que a luta é
árdua. A mídia condenará as manifestações quando focarem no que interessa, e
recrudescerá a repressão policial, inexistente para vândalos e assaltantes.
24. Mas o povo terá de enfrentar isso
tudo, se não quiser, mais uma vez, servir de massa de manobra para os
interesses que o têm mantido sem perspectivas de se libertar. Libertar-se das
imposições de potências estrangeiras, brutais embora ocultadas.
25. Em suma, ter-se-á de ir ao fundo da
questão: exigir autodeterminação, só possível num sistema político em que os
governantes não sejam escolhidos, cooptados, corrompidos nem acuados pelos
concentradores.
26. Os obstáculos são muitos. Um dos
principais é o tradicional jogo do império anglo-americano, de incitar o ódio
ideológico. Para vencê-lo, os brasileiros têm de se unir em torno de questões
concretas pautadas pelo interesse nacional.
27. Por exemplo, os manipuladores
qualificam o governo de socialista ou neocomunista, quando as políticas dele
privilegiam a oligarquia financeira imperial. Enquanto isso, partidos como o PT
e PCdoB espalham o mito de serem de esquerda.
28. O programa de reconstrução do Brasil
deve priorizar a reindustrialização sob capital nacional e dar ênfase à defesa
do País. O oposto do que acabam de fazer lideranças da Câmara dos Deputados
desengavetando o acordo que cede aos EUA, potência balística, nuclear e
imperial, a base de lançamento de foguetes em Alcântara.
* Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
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