terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Guerrilha urbana
Estamos subindo a escada da guerrilha política. Ela começou de forma aleatória, primária. A não aceitação violenta das leis comuns e regras sociais é uma forma primária e pré-revolucionária, estamos nessa fase e o futuro é absolutamente imprevisível diante da miopia e na crença de superpoderes daqueles que mandam no Brasil.
As cidades já mostram o que poderíamos qualificar de “guerrilha urbana”. Nos presídios religiões, conceitos rudimentares de política e muita disposição para a luta dos presidiários excluem a Polícia formal. O ambiente sórdido em que sobrevivem é, na maioria dos casos, desproporcional com os crimes que os levaram à cadeia. Enquanto padecem os horrores medievais de cárceres brasileiros, outros desfilam de heróis e exigem privilégios, pois, algo inédito, foram investigados, julgados e condenados. Pior ainda, os maiores criminosos estão soltos...
Como chegamos a esse ponto? Quando imaginamos a letra de nosso hino Nacional pensamos que estamos tendo um pesadelo com medo de acordar.
Nosso povo mais humilde sempre foi desprezado pelas elites nacionais e internacionais. Na visão geral que pode ser confirmada em qualquer livro sério de história e sociologia descobrimos que nossas mazelas vêm de longe.
Muitas pequenas e grandes revoluções aconteceram no Brasil, todas elas, naturalmente, refletindo a cultura e poderes em conflito. Ao sul das Três Américas ficamos alheios a muitas transformações que outros povos foram objeto de forma pacífica e violenta.
Não temos que lamentar nossa índole e o resultado do que aconteceu. Era o que era possível num país continental, tropical e imerso em florestas e mosquitos, habitado por nações pré-colombianas com origens em outros continentes, somos, contudo, todos descendentes dos mesmos canteiros.
O ser humano é o que é [ (Golding), (Nietzsche), etc.] e sendo uma espécie animal pretensamente racional vive de paixões e instintos, com raras exceções. Chegamos a situações de histeria absurdas como vimos acontecer em Joinville no ano passado num simples jogo de futebol entre times de profissionais.
O mundo moderno gera desejos e costumes, muitos deles fortalecendo os piores instintos.
As drogas baixam de custo e eliminam o pouco de equilíbrio emocional que os viciados teriam.
Nossos governantes continuam desprezando a Educação, a Saúde, o lazer sadio, a facilitação do trabalho, a dignidade humana. Isso é um dos efeitos da submissão tácita a grupos econômicos supranacionais, absolutamente indiferentes a quem não chega ao Olimpo e devidamente confortados por ideologias ultraegoístas e religiões que dão amparo a pretensões pessoais dessa espécie.
Enquanto o mundo de Caras acredita que viver é exibir-se, os meios de comunicação evoluem, a universalização da informação acontece e as feridas estão se abrindo da pior maneira.
No Brasil estamos em meio a uma escalada de violência, crescimento e mudanças de tonalidades da agressividade mútua. Vimos há muito tempo a ideologia simplória de quadrilhas e criminosos; simplória ou não o crime organizado mostra-se mais e mais eficaz onde seus agentes têm alguma instrução e muita inteligência.
O que é espantoso é a indiferença de elites novas e antigas diante da tragédia social em estamos mergulhados. A classe média com mais eletrodomésticos, vinhos e carros importados e apartamentos de luxo dá a ilusão de sucesso de “políticas econômicas e sociais”.
Todos esquecem o poder da mídia comercial, do marqueting mais e mais exigente e a capacidade crítica dos adolescentes marginalizados. Por que milhões de brasileiros jovens e crianças são obrigados a viver de forma tão estúpida?
Nossas elites emplumadas abandonaram as crianças. Para a infância e a juventude o desprezo e a irritação contra pais prolíficos que já fizeram a riqueza dos grandes operadores de escravos de qualquer cor. Aliás, os escravagistas até qualificavam a capacidade de submissão da mão de obra servil em função de suas origens... As leis de imigração refletem isso em todos os países ao longo do tempo.
Nesse início de ano vale lembrar a Revolução Francesa e a história daquele país nos século 18 e 19 [ (Darnton), (Renoir), etc.], alguns livros mostrarão situações razoavelmente semelhantes à nossa. A diferença maior é o grau de hipocrisia. Desde as Barricadas de Paris (Lecaillon) as aristocracias modernas adotaram padrões de dispersão e distração mais eficazes.
E agora?
A formação de megalópoles, autênticas monstrópoles, se ajuda a eleger para os maiores cargos da nação os seus prefeitos também ajuda na formação de movimentos de revoltas praticamente irresistíveis. Em junho de 2013 vimos o que significa a vontade de um povo de reagir à corrupção, à incompetência, à sandice do governo em função de orientações frívolas e oportunistas.
Nossas livrarias estão mostrando sucessos “best sellers” nacionais, muitos deles relatando o que seus autores sabem sobre a corrupção de esquerda, direita, centro, acima e abaixo dos palácios.
Estamos com leis românticas e governantes confusos, o que farão? Saberão encontrar um padrão de respeitabilidade e competência que dê a todos os brasileiros trabalhadores, honestos e patriotas o prazer de pagarem impostos, tranquilidade, saúde, segurança, dignidade?
Salvarão as novas gerações oferecendo-lhes escolas, creches, postos de saúde, formação profissional etc.
Darão às pessoas com deficiência(s) condições de mostrarem seus valores?
Criarão condições de aposentadoria e respeito aos idosos e idosas?
Reformarão nossas cidades de modo a reverterem a degradação ambiental (em todos os sentidos)?
Viabilizarão a integração de todos os povos que vivem dentro das fronteiras do Brasil?
Precisamos do Brasil que nossos hinos cantam.
Somos seres humanos, aqui e fora de nossas fronteiras. O mundo não é acolhedor. O ideal é sonhar e trabalhar para formação de nossa pátria. Em tempos de crise os estrangeiros viram objetos indesejáveis em qualquer lugar.
Filmes em cartaz mostram o que foi o nazismo, o antissemitismo e outras tragédias humanas.
Ser brasileiro não é uma boa qualificação lá fora, exceto para aqueles muito ricos, em condições de comprar qualquer cidadania.
Uma coisa é certa, se os chefes de plantão errarem terão para onde fugir (alguns com passaportes prontos e talvez algo mais para recebê-los), e nós vamos para onde?
Cascaes
4.2.2014
Darnton, R. (s.d.). O Diabo na Água Benta. Fonte: Livros e Filmes Especiais : http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/03/o-diabo-na-agua-benta.html
Golding, W. (s.d.). O Senhor das Moscas - "Lord of Flies". Editora Nova Fronteira.
Lecaillon, J. F. (s.d.). La Commune de Paris - racontée par les Parisiens. Bernard Giovanangeli Éditeur.
Nietzsche, F. (s.d.). Humano, Demasiado Humano (2 ed.). (A. C. Braga, Trad.) escala.
Renoir, J. (s.d.). A Marselhesa - Uma crônica da Revolução Francesa . Fonte: Jean Renoir: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2010/06/marselhesa-uma-cronica-da-revolucao.html



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