Guerrilha urbana
Estamos subindo a escada da guerrilha política. Ela começou
de forma aleatória, primária. A não aceitação violenta das leis comuns e regras
sociais é uma forma primária e pré-revolucionária, estamos nessa fase e o
futuro é absolutamente imprevisível diante da miopia e na crença de
superpoderes daqueles que mandam no Brasil.
As cidades já mostram o que poderíamos qualificar de
“guerrilha urbana”. Nos presídios religiões, conceitos rudimentares de política
e muita disposição para a luta dos presidiários excluem a Polícia formal. O
ambiente sórdido em que sobrevivem é, na maioria dos casos, desproporcional com
os crimes que os levaram à cadeia. Enquanto padecem os horrores medievais de
cárceres brasileiros, outros desfilam de heróis e exigem privilégios, pois,
algo inédito, foram investigados, julgados e condenados. Pior ainda, os maiores
criminosos estão soltos...
Como chegamos a esse ponto? Quando imaginamos a letra de
nosso hino Nacional pensamos que estamos tendo um pesadelo com medo de acordar.
Nosso povo mais humilde sempre foi desprezado pelas elites nacionais
e internacionais. Na visão geral que pode ser confirmada em qualquer livro
sério de história e sociologia descobrimos que nossas mazelas vêm de longe.
Muitas pequenas e grandes revoluções aconteceram no Brasil,
todas elas, naturalmente, refletindo a cultura e poderes em conflito. Ao sul
das Três Américas ficamos alheios a muitas transformações que outros povos
foram objeto de forma pacífica e violenta.
Não temos que lamentar nossa índole e o resultado do que
aconteceu. Era o que era possível num país continental, tropical e imerso em
florestas e mosquitos, habitado por nações pré-colombianas com origens em
outros continentes, somos, contudo, todos descendentes dos mesmos canteiros.
O ser humano é o que é [ (Golding), (Nietzsche), etc.] e sendo uma
espécie animal pretensamente racional vive de paixões e instintos, com raras
exceções. Chegamos a situações de histeria absurdas como vimos acontecer em
Joinville no ano passado num simples jogo de futebol entre times de
profissionais.
O mundo moderno gera desejos e costumes, muitos deles
fortalecendo os piores instintos.
As drogas baixam de custo e eliminam o pouco de equilíbrio
emocional que os viciados teriam.
Nossos governantes continuam desprezando a Educação, a
Saúde, o lazer sadio, a facilitação do trabalho, a dignidade humana. Isso é um
dos efeitos da submissão tácita a grupos econômicos supranacionais,
absolutamente indiferentes a quem não chega ao Olimpo e devidamente confortados
por ideologias ultraegoístas e religiões que dão amparo a pretensões pessoais
dessa espécie.
Enquanto o mundo de Caras acredita que viver é exibir-se, os
meios de comunicação evoluem, a universalização da informação acontece e as
feridas estão se abrindo da pior maneira.
No Brasil estamos em meio a uma escalada de violência,
crescimento e mudanças de tonalidades da agressividade mútua. Vimos há muito
tempo a ideologia simplória de quadrilhas e criminosos; simplória ou não o
crime organizado mostra-se mais e mais eficaz onde seus agentes têm alguma
instrução e muita inteligência.
O que é espantoso é a indiferença de elites novas e antigas
diante da tragédia social em estamos mergulhados. A classe média com mais
eletrodomésticos, vinhos e carros importados e apartamentos de luxo dá a ilusão
de sucesso de “políticas econômicas e sociais”.
Todos esquecem o poder da mídia comercial, do marqueting
mais e mais exigente e a capacidade crítica dos adolescentes marginalizados. Por
que milhões de brasileiros jovens e crianças são obrigados a viver de forma tão
estúpida?
Nossas elites emplumadas abandonaram as crianças. Para a
infância e a juventude o desprezo e a irritação contra pais prolíficos que já
fizeram a riqueza dos grandes operadores de escravos de qualquer cor. Aliás, os
escravagistas até qualificavam a capacidade de submissão da mão de obra servil
em função de suas origens... As leis de imigração refletem isso em todos os
países ao longo do tempo.
Nesse início de ano vale lembrar a Revolução Francesa e a
história daquele país nos século 18 e 19 [ (Darnton), (Renoir), etc.], alguns
livros mostrarão situações razoavelmente semelhantes à nossa. A diferença maior
é o grau de hipocrisia. Desde as Barricadas de Paris (Lecaillon) as aristocracias
modernas adotaram padrões de dispersão e distração mais eficazes.
E agora?
A formação de megalópoles, autênticas monstrópoles, se ajuda
a eleger para os maiores cargos da nação os seus prefeitos também ajuda na
formação de movimentos de revoltas praticamente irresistíveis. Em junho de 2013
vimos o que significa a vontade de um povo de reagir à corrupção, à
incompetência, à sandice do governo em função de orientações frívolas e
oportunistas.
Nossas livrarias estão mostrando sucessos “best sellers”
nacionais, muitos deles relatando o que seus autores sabem sobre a corrupção de
esquerda, direita, centro, acima e abaixo dos palácios.
Estamos com leis românticas e governantes confusos, o que
farão? Saberão encontrar um padrão de respeitabilidade e competência que dê a
todos os brasileiros trabalhadores, honestos e patriotas o prazer de pagarem
impostos, tranquilidade, saúde, segurança, dignidade?
Salvarão as novas gerações oferecendo-lhes escolas, creches,
postos de saúde, formação profissional etc.
Darão às pessoas com deficiência(s) condições de mostrarem
seus valores?
Criarão condições de aposentadoria e respeito aos idosos e
idosas?
Reformarão nossas cidades de modo a reverterem a degradação
ambiental (em todos os sentidos)?
Viabilizarão a integração de todos os povos que vivem dentro
das fronteiras do Brasil?
Precisamos do Brasil que nossos hinos cantam.
Somos seres humanos, aqui e fora de nossas fronteiras. O
mundo não é acolhedor. O ideal é sonhar e trabalhar para formação de nossa
pátria. Em tempos de crise os estrangeiros viram objetos indesejáveis em
qualquer lugar.
Filmes em cartaz mostram o que foi o nazismo, o antissemitismo
e outras tragédias humanas.
Ser brasileiro não é uma boa qualificação lá fora, exceto
para aqueles muito ricos, em condições de comprar qualquer cidadania.
Uma coisa é certa, se os chefes de plantão errarem terão
para onde fugir (alguns com passaportes prontos e talvez algo mais para recebê-los),
e nós vamos para onde?
Cascaes
4.2.2014
Golding, W. (s.d.). O Senhor das Moscas -
"Lord of Flies". Editora Nova Fronteira.
Lecaillon, J. F.
(s.d.). La Commune de Paris - racontée
par les Parisiens. Bernard
Giovanangeli Éditeur.
Nietzsche, F. (s.d.). Humano, Demasiado Humano
(2 ed.). (A. C. Braga, Trad.) escala.