A moralização do processo político
Uma postura que precisa ser corrigida é a de aceitação de
nossas leis. Nossa democracia não é imune a defeitos que descobrimos até em
nações desenvolvidas do “Primeiro Mundo”, mas o deboche das cortes existentes
em relação ao povo em geral atingiu níveis extremos, colocando em dúvida nossas
instituições mais sagradas.
Um país com dimensões continentais e diversidade enorme
precisa ter um povo unido, um mito de existência. A crença na liberdade, na
democracia e nos três poderes da República é algo que pode unir ou fragmentar o
Brasil, se o seu povo perder esperanças.
Infelizmente diante de desafios de moralização algumas
lideranças e ocupantes de cargos que deveriam estar acima de qualquer suspeita
cometeram deslizes inacreditáveis ao longo desses últimos anos. A desesperança
tomou conta de nossas convicções, levando-nos a imaginar soluções ou
simplesmente esquecer o que acontece entre um escândalo e outro.
Parece que estamos mudando, que vamos a partir do julgamento
do Mensalão ter um novo Brasil. Essa é a visão de especialistas e de
brasileiros em geral, descobrindo que os donos do poder podem sentar no banco
dos réus e, apesar de gastarem muito com advogados de primeira linha, receberem
sentenças que deverão inibir fatos semelhantes na União, estados e municípios.
Cria-se jurisprudência e aumenta tremendamente a fé no Poder Judiciário.
É triste ver pessoas que pareciam ser capazes de bom governo
serem condenadas dessa forma, mas erraram feio e agora merecem o que ouvem.
Com certeza estamos longe dos principais líderes. O poder de
alguns assusta e recomenda um processo que esperamos vir a ser gradativo,
varrendo para detrás das grades os maiores responsáveis, ou, pelo menos,
vacinando o povo contra a demagogia que distraia nossa gente.
O mensalão é apenas um dos muitos casos a serem analisados
com profundidade, se não pelo Poder Judiciário, teremos nas próximas décadas
tempo para explicar muita coisa com dados e fatos ao longo de nossa história
recente.
A sensação é que o Brasil foi mobilizado para desviar a
atenção de todos e facilitar articulações. Greves inexplicáveis causam um
prejuízo colossal ao país, é o preço dessa revolução ética que o STF promove.
Corruptores e corrompidos precisam perder poder. Há muito a
ser feito, principalmente na inibição de atos ilícitos a partir dos verdadeiros
poderosos da nação, escondidos em seus gabinetes longe de Brasília. Na política
é urgente o financiamento público, explícito e transparente de campanhas e a
reforma do processo eleitoral, talvez adotando pouco a pouco a democracia
direta, sem intermediários.
Estamos ganhando fé no Brasil por sentenças, votos e
estratégias do STF. Esse processo de tratamento intensivo marcará a história do
Brasil e servirá de exemplo a muitas nações que tendem acintosamente para
comportamentos estranhos. Se o Brasil tiver capacidade de servir de modelo para
a América Latina muitos “Hermanos” devem estar comparando atitudes e talvez
iniciando um processo de reversão do desmonte da democracia em seus países...
A grande mensagem é que num país democrático e livre ninguém
está acima das leis aprovadas regularmente. As estratégias de criação de
brasileiros acima da lei esbarraram na Procuradoria Geral da União e no STF,
ufa!
Cascaes
30.8.2012
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