O pesadelo da omissão e incompreensão
O Brasil esteve desde o início do período imperial sob o
risco de se dissolver à semelhança da América Espanhola. Nossos imperadores e
posteriormente os presidentes e ditadores zelaram pela união nacional. Foram eficazes?
Vivemos num grande país que poderia ser uma belíssima
federação de estados com mais independência, autonomia e responsabilidade
política, administrativa, fiscal e até conceitual, ou seja, criando
instituições mais ajustadas à cultura regional.
Com certeza existem estados que teriam dificuldades se a
reorganização da União fosse baseada em simples mudança de condição
institucional dos atuais estados, mas o Brasil poderia ter outra divisão,
talvez respeitando as regiões atuais (cinco).
O que podemos deduzir analisando as crises que estamos
enfrentando é que o excesso de poder do governo central (Brasília) é
extremamente perigoso para nosso povo. Com sobrecarga de atribuições e poderes
a Presidência e o Parlamento Federal, lá no centro geográfico desse país de
dimensões continentais, quer até determinar detalhes insignificantes de nossas
vidas esquecendo as tremendas diferenças existentes entre nós.
O Brasil atualmente é uma empresa gigantesca com centenas de
milhares de funcionários inventando regras e normas sem conhecer nossa
realidade, ou melhor, exigindo do Governo Federal algo impossível. Não temos
riquezas naturais em excesso, dependemos de nosso trabalho, precisamos crescer
sob todos os aspectos, de que jeito quando sentimos o nosso povo dividido como
se fôssemos uma coleção de torcidas organizadas acusando-se mutuamente e
querendo matar o árbitro após o desastre em que mergulhamos?
Falam em siglas partidárias, ideologias, partidos políticos
etc. quando deveríamos estar desde sempre preocupados com a formação sadia de
uma grande nação. É, entretanto, pedir demais de qualquer ser humano que assuma
a Presidência com a estrutura institucional criada, existente.
Precisamos trazer para as cidades e estados maior
responsabilidade e direitos.
É simples no cenário brasileiro atual jogar a culpa em outros
poderes, níveis de governo etc., quase nada é atribuição exclusiva das cidades
onde padrões e normas federais acabam influindo em projetos nem sempre ao
alcance de seus contribuintes. Na farra do rateio dos impostos criaram
municípios que mal se aguentam em pé. Sob responsabilidade difusa os políticos
fogem de propostas realizáveis e abusam de fantasias.
Perdemos sensibilidade de causa e efeito.
Pior ainda, na orgia do poder federal “ganhamos” promessas e
projetos que não queremos, não podemos pagar, não entendemos e por aí afora.
Em 2014, por essa época, o Brasil devidamente turbinado pela
mídia comercial gastava tempo, dinheiro, fazia feriados e leis especiais para
perder de 7 a 1. Quem ganhou com isso? O que perdemos além de um jogo que
ninguém entendeu?
Tempo, disposição para debater com profundidade a estiagem,
as dificuldades argentinas (parceiro comercial importantíssimo), saúde,
educação, ... as marolas europeias e muito mais.
Ingenuamente os brasileiros foram submetidos a uma campanha
eleitoral onde tivemos de tudo, menos a verdade; o pesadelo criado até por um
modelo institucional para a energia elétrica, a especulação oportunista e
ausência senso de oportunidade é um bom exemplo de alienação geral. Estamos
pagando uma conta que não para de crescer.
Agora os pacotes de maldades precisam do terrorismo de
Estado para serem aprovados, pois as contas não fecham.
Ano a ano nesse escalonamento de poderes ouvimos a Frase “o
Governo paga”, qual? de que jeito?
Em países mais sérios existe uma compreensão forte sobre o
significado do que significa governar. Não é festa, não se faz milagre, o maná
acabou e tudo o que criamos no Brasil depende do empreendedorismo e capacidade
de trabalhadores nos dois lados dos gabinetes dos chefes. Todos pagam impostos.
Criamos até um Partido dos Trabalhadores como se fôssemos algum
país onde só operários trabalhassem. Olhamos em programas de TV corridas de
automóvel em países riquíssimos. Não perguntamos o que faz a diferença.
Lamentavelmente “somos humanos, demasiadamente humanos” (1) e assim precisamos
de cuidado diante de políticos e eleitores distantes de nossa realidade. Provavelmente
a melhor forma de conviver de forma objetiva seja uma mudança radical de nossa
organização política (2) .
O Governo central talvez possa conduzir uma federação de
estados quase independentes. Com certeza já demonstrou inúmeras vezes que o
Brasil é grande demais para um comitê gerencial tão distante e, via de regra,
altamente influenciável pelo que de pior existe em nossos instintos.
Cascaes
27.4.2015
1. Nietzsche, Friedrich. Humano, demasiado
Humano. [Online]
http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2012/01/humano-demasiado-humano.html.
2. Cascaes, João
Carlos. O irredento. [Online] http://o-irredento.blogspot.com.br/.
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