quarta-feira, 9 de junho de 2010

O estopim esperado

De José Ingenieros temos que:

O portador de um ideal vai por caminhos retos, não se importando que sejam ásperos e abruptos. Nunca transige movido por interesses vis; repudia o mal, quando concebe o bem; ignora a duplicidade. Ama na Pátria todos seus concidadãos e sente vibrar em sua alma a de toda a Humanidade; tem atitudes sinceras que dão calafrios aos hipócritas de seu tempo e diz a verdade em estilo tão pessoal que só pode ser palavra sua; tolera nos outros erros sinceros, recordando os seus próprios; encrespa-se diante da baixeza, pronunciando palavras que têm ritmo de apocalipse e eficácia de catapulta; acredita em si mesmo e em seus ideais, sem pactuar com preconceitos e os dogmas dos que o acossam com fúria por todos os lados. Assim é a moralidade superior do gênio[i].

Nunca foi tão importante, entre nós, a identificação de boas lideranças.

A corrupção pode ser vista de forma neutra por muita gente, afinal o analfabetismo total, funcional e político são realidades em nosso país cujas elites resistiram ao máximo às mudanças institucionais nascidas nos últimos séculos do segundo milênio da era cristã.
Por uma série de azares o sul da Europa prendeu-se atavicamente aos tempos medievais, fazendo isso se refletir em suas colônias. Na América do Sul tivemos algumas lideranças lúcidas, que trabalharam para que seus povos fossem instruídos, melhor educados. Do livro de Ingenieros vemos a quase idolatria ao trabalho de Domingo Faustino Sarmiento Albarracín[ii], de quem descobrimos em quase todas as cidades argentinas alguma referência de destaque. De sua luta e trabalhos o que impressiona foi sua visão da importância da educação em pleno século 19, algo que deve ter se espraiado por outros países latino americanos, mostrando diferenças, que talvez tenhamos dificuldades de compreender entre a América lusitana e a espanhola.

Hobsbawm[iii] também chama a atenção para isso comparando aí a América Latina com outros continentes, sempre destacando a distância abissal entre o grau de educação dos diversos povos.

Incomoda ver estatísticas de países no Hemisfério Sul, principalmente as de ordem social. Obviamente temos diferenças enormes entre nações, mas, a maioria, por efeito do espírito colonial ou atavismos culturais que implicam em comportamentos tais que, sendo mais instruídos e educados, repudiamos veementemente.

A humanidade evolui (ou não) dependendo da época e do lugar, de forma a valorizar a Liberdade, a Igualdade de Direitos, a Justiça, a Educação Universal. Em muitos lugares vemos o contrário. Agora descobrimos as ondas fundamentalistas, medievais, lógicas de ódio e segregação se re-impondo em muitos países. Perplexos, notamos a idolatria ao que era antigo, simplesmente, cenários que se estudarmos um pouco mostrarão as razões de tantas guerras e preconceitos.

O século 21 exige novos padrões de Democracia, que, se nasceu de forma restrita nos tempos gregos, propõe-se a ser universal. Democracia com dignidade, contudo. Democracia sem privilégios, sem elites acima das leis e costumes ofensivos aos direitos de todos.

No Paraná o escândalo dos fantasmas e Diários Oficiais secretos é, talvez, o gatilho criado pelo Jornal A Gazeta do Povo e abraçado pela OAB para mudanças drásticas, quem sabe em todo o Brasil. Otimo! Precisamos descobrir um caminho de aprimoramento de nossas instituições, devemos querer votar, gostar da democracia.

Vimos em 8 de junho no centro de Curitiba (apesar do frio intenso), na Boca Maldita, que o sentimento começa a ser percebido pela classe média, pelo menos, e muitas lideranças jovens. A disposição da OAB de fazer uma campanha nacional a favor do aprimoramento da Democracia é algo extremamente meritório e o apoio de um grande grupo de mídia, a RPC aqui no Paraná, essencial a esse trabalho.

Nunca é demais repetir, precisamos, devemos trabalhar, é fundamental o aprimoramento de nossas instituições; para isso tudo querer transparência total, saber o que acontece, como, porque, onde, quanto custa, o que o povo ganha com tudo que sustenta é fundamental a decisões que tomará.

O voto é nossa arma. O voto consciente pelo menos será a forma de nos sentirmos orgulhosos, indiferentes ou decepcionados, quem sabe tão incomodados que as campanhas contra os maus vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidentes se tornem mais freqüentes, fortes e capazes de realmente mudar o Brasil.

Sabemos que os maus políticos cooptam nosso povo explorando a ignorância e a miséria de muita gente. Quem for líder, lutador, guerreiro, poderá, contudo, batalhar para que os maus políticos sejam varridos de nosso país, para, enfim, termos orgulho de ser uma nação respeitada não apenas pelo carnaval, futebol... mas pela excelente qualidade de nosso povo.

Cascaes
9.6.2010

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[i] Ingenieros, J. O Homem Medíocre. (T. B. Villalba, Trad.) Curitiba: Editora do Chain. pg 222
[ii] http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Old7839EszAJ:pt.wikipedia.org/wiki/Domingo_Faustino_Sarmiento+sarmiento&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br  
[iii] http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Y334M_CMwK0J:pt.wikipedia.org/wiki/Eric_Hobsbawm+hobsbawm&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

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