segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O PLANETA “ÁGUA”

A água é o mais importante recurso natural do planeta em que vivemos. Tão importante que poderia até ter emprestado o nome para denominá-lo, não só pelo fato de ocupar 71% da sua superfície, mas, também, porque representa, em peso médio, 70% do corpo dos animais, entre eles o homem, e, ainda, 90% do corpo das plantas.

Além disso, a vida na Terra começou exatamente na bendita água!

O suprimento total do precioso líquido é da ordem de 1,2 x 1021 litros. Todavia, os oceanos e lagos salgados representam 97,14% desse total e mais 2,24% acham-se congelados nas calotas polares e nas geleiras permanentes, além de um percentual igual a 0,005% distribuído sob a forma de umidade do solo e da atmosfera.

A água doce, em estado líquido, disponível para uso dos homens, 7,38 x 1018 litros, ou 0,615% do suprimento total de água, divide-se entre a água subterrânea (0,606%) e a água contida nos rios e lagos (0,009%).

Felizmente, para todos os organismos, a quantidade de água doce disponível em estado líquido, mantém-se praticamente constante, uma vez que ela surge no decorrer de um processo contínuo denominado ciclo hidrológico.

O ciclo hidrológico começa com a evaporação da água dos oceanos, prossegue com a formação do vapor de água atmosférico, continua com a precipitação, isto é, a chuva, e termina com a devolução aos oceanos da água que flui nas enxurradas.

Acontece, porém, que a distribuição da água no planeta é muito assimétrica.

O Brasil, por exemplo, ocupando 6,28% da superfície emersa da Terra (sem contar a Antártica) e alojando apenas 2,41% da população mundial, armazena no seu território nada menos do que 21% do total de água potável superficial disponível. Só a Amazônia, “paraíso dos recursos naturais” e ”império das águas”, acumula 15% do total!

Outro país, o Canadá, vem logo depois do Brasil, no tocante ao armazenamento de água potável, com 14% do total mundial. A população desse país, como é sabido, é da ordem de 31 milhões de habitantes, que representam 0,45% da humanidade, embora dispondo de 7,3% das terras emersas ocupadas permanentemente.

O retrato da assimetria aí está mostrado de corpo inteiro: duas unidades soberanas, que ocupam juntas 13,58% das terras emersas, embora. representem apenas 2,86% da população da Terra, conservam em seus domínios 35% do precioso líquido.

Um parêntesis para falar sobre a Amazônia brasileira: o extraordinário acúmulo de água superficial na região é conseqüência natural do volume, sem igual, da precipitação regional, 35 trilhões de litros por dia, fora as chuvas que caem nos cursos iniciais dos rios amazônicos, além dos limites da região e, mesmo, do Brasil, e, ainda, da gigantesca área ocupada pelos rios e lagos amazônicos, que chega a 80 mil quilômetros quadrados, sem computar os milhares de igarapés que, juntamente com os rios, caracterizam a região como um enorme arquipélago!

A mesma assimetria existente na disponibilidade de água, repete-se no consumo.

Hoje, a humanidade consome aproximadamente 3,8 x 1015 litros por ano, praticamente a metade da água disponível na superfície e no subsolo.

Desse consumo total, 73% destinam-se à irrigação que, por seu turno, é usada para a produção de alimentos, indispensáveis para a sobrevivência do gênero humano.

Todavia, enquanto na Guiné Bissau a média de consumo anual per capita é da ordem de 18 mil litros e em Uganda atinge 20 mil litros, na Alemanha chega a 53 mil litros e nos Estados Unidos da América esbarra em 100 mil litros (dados de 1992, fornecidos pela “Water Services Association).

Em decorrência dessas duas assimetrias notáveis, cerca de 1,2 bilhão de seres humanos deixam de ser atendidos satisfatoriamente nas suas necessidades de água. Para sanar tais deficiências, busca-se constantemente a água armazenada no subsolo de áreas sedimentares e multiplicam-se as usinas de dessalinização da água do mar, hoje mais de mil, todas instaladas em países ricos, com capacidade de produção da ordem de 7 x 1012 litros de água potável por ano.

A Califórnia, unidade mais próspera dos Estados Unidos da América, é um caso típico de região castigada pela falta de água, ao mesmo tempo exemplo marcante da concentração de esforços do Poder Público, no sentido de superar tal problema.

Na década de 80, o governo estadual concluiu um extraordinário sistema de armazenagem, transporte e distribuição de água, para abastecer a região semi-árida, cerca de 70% do território estadual, com as sobras dos 30% restantes, que se localizam ao norte, menos populoso. O empreendimento custou na época, 2 bilhões de dólares, por incluir 21 represas e reservatórios, 22 estações de bombeamento e 1.100 quilômetros de canais, túneis e adutoras.

É, precisamente o que se deve fazer no nordeste do Brasil.

Como certos pontos da Califórnia, ainda permaneceram críticos, sobretudo devido ao uso intensivo da irrigação, vários municípios decidiram partir para a instalação de usinas de dessalinização, com recursos próprios e, enquanto montavam tais usinas chegaram a tentar a importação de água do Canadá, usando navios-tanque para o transporte.

Mas, não é só a Califórnia que enfrenta problemas da água nos Estados Unidos da América. Na costa oeste da Flórida operam, desde a década de 80, 75 usinas de dessalinização com capacidade para produzir 158 trilhões de litros de água potável por ano. No sudoeste do país, ademais, oito estados, desde Nebraska ao norte, até o Texas, no sul, só não mergulharam em crise aguda devido à exploração de um descomunal aqüífero subterrâneo, o “Ogallala”, que se espraia por 502 mil quilômetros quadrados e contêm 2,5 x 1012 litros de água potável.

Em matéria de aqüíferos subterrâneos, o Criador também beneficiou sobremodo o Brasil. No Centro-Sudoeste, impera o Aqüífero Guarani, a maior reserva subterrânea medida de água doce do mundo, que ocupa uma área de 1,2 milhões de quilômetros quadrados, sendo 840 mil quilômetros quadrados divididos entre os estados de Goiás (55.000 km2), Mato Grosso (26.400 km2), Mato Grosso do Sul (213.700 mil km2), Minas Gerais (51.300 km2), Paraná (131.300 km2), Rio Grande do Sul (157.600 km2), Santa Catarina (49.200 km2) e São Paulo (155.800 km2). O resto da área que recobre o aqüífero, 360 mil quilômetros quadrados, distribui-se entre o nordeste da Argentina (255.000 km2), o sudeste do Paraguai (58.500 km2) e o noroeste do Uruguai (58.500 km2).

O Aquífero Guarani acumula 55.000 quilômetros cúbicos de água, numa profundidade máxima de 1.800 metros e com uma capacidade de recarregamento igual a 166 quilômetros cúbicos por ano de precipitação

É importante frizar que os aqüíferos subterrâneos brasileiros não se restringem ao Guarani, localizado sob a bacia do Paraná. Todas as áreas sedimentares do país são dotadas de depósitos subterrâneos, inclusive a Bacia do Amazonas onde se deverá medir um depósito superior mesmo ao Aqüífero Guarani.

Um dado interessante sobre o ciclo hidrológico: calcula-se como sendo igual a 907.000 metros cúbicos por segundo a vazão de todos os rios da Terra. Pois bem, a vazão do rio Amazonas é igual a 176.000 metros cúbicos por segundo, equivalente a 19,4% do total mundial. Não é de se admirar, pois, que nos últimos tempos navios estrangeiros penetrem no mar territorial brasileiro, na altura da foz do Amazonas para fazer “aguada”, isto é encher os seus porões com água doce. Trata-se de uma nova modalidade de pirataria: a “hidropirataria”.

Mais um motivo, então, para a Marinha de Guerra acelerar a montagem da Esquadra do Norte, pois do contrário, muito em breve esses navios-cisternas estarão enchendo os seus tanques com águas dos tributários do Amazonas que nascem e cortam áreas cristalinas, como o Tapajós, cujas águas são verdes e praticamente livres de sedimentos.




ROBERTO GAMA e SILVA

ALMIRANTE REFORMADO

Revisão em 21 de fevereiro de 2010

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