segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Ética instintiva e a violência

Tod ser humano ser humano desenvolve ao longo da vida critérios pessoais e escolhe paradigmas de comportamento que em seu conjunto formam um padrão ético singular, único, sempre lembrando que não existem duas pessoas iguais após alguns anos de vida. Tudo o que acontece é base de ajustes e até de mudanças radicais.
É pura fantasia acreditar em clones morais, intelectuais. Felizmente a diversidade é a base de nossa existência. É, pois, extremamente importante compreender e aceitar a diversidade de comportamentos e crenças. A sobrevivência da Humanidade passa pela pacificação de povos. Note-se que sempre existirão indivíduos radicais, anarquistas, rebeldes, fanáticos por qualquer coisa... Saber o que fazer quando nos agridem é a chave da harmonia social.
Estamos acompanhando (mais uma vez) um período de radicalização de ideologias e crenças metafísicas (Metafísica s.d.) produzindo códigos morais secretos, discretos e públicos que levam inúmeros jovens a atitudes extremas. Com imenso pesar sentimos que as pessoas mais velhas se protegem, mas estimulam e aplaudem comportamentos que estão de acordo com suas convicções e conveniências (principalmente).
Tivemos no século 20 cenários que foram de um extremo a outro, uma prateleira de experiências dramáticas. Citamos o último século porque dele temos montanhas de registros analisáveis. Em algum momento desses tempos ganhamos até a impressão de que a Humanidade evoluía muito, principalmente em torno da serenidade e tolerância, inclusive em relação àqueles que se mostravam extremistas.
Agora, que frustração, os noticiários criam diariamente para quem, já idoso, lembra-se das fantasias e sonhos de muitas décadas passadas.
Naturalmente nações inteiras são obrigadas a se defenderem de grupos de pessoas que decidem destruir tudo o que contraria suas crenças; o que é fundamental, contudo, é não radicalizar, pior ainda, instigar e motivar violências genéricas. Para quê? Para provar utopias induzindo qualificações que colocam muito mais gente com o carimbo de terroristas e coisas semelhantes?
Imaginamos que vivemos com democracia, por exemplo, desprezando o poder de grupos organizados que mandam e desmandam em nossas vidas, alguém duvida? Ou seja, nossas ilusões criam miragens... ainda que melhores do que nos tempos em que a regra era a mais abjeta bajulação e submissão a Côrtes, exércitos, clérigos, videntes, bruxos, profetas, etc.
Agora temos novos imperadores (Eco 2015), entre eles os donos das empresas de comunicação.
A Mídia formal custa caro e precisa de patrocinadores.
O marketing virou profissão explícita e seus profissionais com frequência desprezam o que podem criar contra o povo objeto de suas mensagens. Fazem e desfazem mitos. No Brasil o Mensalão (Personagens do 'mensalão': Duda Mendonça, o marqueteiro s.d.) e a Lava Jato (Monica Moura e João Santana deixam a prisão em Curitiba 2016) demonstram esse poder, assim como a origem dos recursos que consomem.
Tudo isso exige um processo educativo mais eficaz para a neutralização do que é nocivo às crianças, por exemplo. A propaganda de propostas violentas, contudo, é o maior pesadelo nessa fase da História da Humanidade pois agora ela pode ser instantânea, universal.
Em relação a povos dominados por fanáticos precisamos de inteligência e competência para não alimentarmos crenças violentas e a indústria e comércio da guerra, os interesses petroleiros, a exportação e importação de ódios e sofrimentos, enfim, a cultura da violência, que tanto dinheiro dá a certos cineastas e artistas, além de, evidentemente, fama para políticos e medalhas para os mortos, estátuas para os seus chefes, tema de pesquisas sem fim. É bom não esquecer que conveniências dinásticas e tribais, e a partir do século 19 o nacionalismo radical, a xenofobia, o racismo e as ideologias políticas sempre usaram as religiões ou inventaram seitas e lógicas mórbidas. Vale a pena conhecer em detalhes a letra dos hinos nacionais (Hinos de Países s.d.) de países que se dizem modelo de civilização.
Criamos códigos de ética formais e nas empresas, famílias, escolas, filmes, livros etc. poderemos estudar e decorar autênticos catecismos, mas a dúvida também precisa ser estimulada. A vacina contra o radicalismo é compreender que simplesmente somos insignificantes e incapazes de fazer afirmações éticas, morais e até as relativas às leis da Natureza.
A dúvida abre o coração e estimula o amor ao próximo, pois com muito mais facilidade conversaremos, teremos amigos e amigas. Humildade, disposição para o diálogo e determinação para aprender e educar para a liberdade deveriam ser nossa missão em relação a todos que se dispõem a ler e ouvir nossas visões éticas e culturais (atenção, estamos colocando nossas convicções...).
Pesquisar, ouvir e ver com certa malícia reportagens e notícias dão maturidade. É ingenuidade acreditar sem questionar e imaginar o que realmente move lideranças que em atos solenes, por exemplo, dizem que devemos salvar o mundo, a Pátria, o povo. Principalmente em manifestações de lideranças que dependem de aceitação pública é fácil perceber o radicalismo até de indivíduos que se dizem a favor da liberdade, fraternidade e igualdade. Políticos sabem que vencer campeonatos ou guerras redimem a popularidade perdida pela incompetência. Lideranças civis e militares em geral não são diferentes, a “lavagem cerebral” e apelos a sentimentos que Freud e Jung e os bons mestres em Sociologia explicaram tão bem é rotina.
E nós?
Precisamos viver com muito cuidado, escolhendo caminhos e referências de valor. Nesses tempos de redes sociais, portais, internet, sistemas de comunicação instantânea e mais e mais excelentes e péssimos escritores, sociólogos, filósofos, cineastas, psicólogos e especialistas em tudo que pudermos imaginar, aprender e desenvolver um sentimento crítico e saudável é infinitamente mais fácil onde a liberdade existe, se compararmos o século 21 a cenários de algumas décadas passadas.
Podemos e devemos construir nossos códigos de ética sim, sem ingenuamente aceitar passivamente padrões e modelos estereotipados.
Assim, não esquecendo contribuições universais temos esperança, enquanto a liberdade de expressão existir, principalmente sem custos maiores que algumas clicadas, de superarmos crises de agressividade pessoal, social, política e vivermos num mundo melhor em algum tempo no futuro.

João Carlos Cascaes
Curitiba, 1 de agosto de 2016


Bonis, Gabriel. Personagens do 'mensalão': Duda Mendonça, o marqueteiro. s.d. http://www.cartacapital.com.br/politica/personagens-do-mensalao-duda-mendonca-o-marqueteiro (acesso em 1 de 8 de 2016).
Eco, Humberto. Número Zero. Record, 2015.
Hinos de Países. s.d. https://www.letras.mus.br/hinos-de-paises/ (acesso em 1 de 8 de 2016).
Metafísica. s.d. https://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsica (acesso em 1 de 8 de 2016).
Monica Moura e João Santana deixam a prisão em Curitiba. 2016 de 1 de 2016. http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/08/monica-moura-e-joao-santana-deixam-prisao-em-curitiba.html.




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