quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Milagre não existe - Lava Jato sim

Panaceias insensatas – feliz ano novo
Nada mais justa que a tremenda revolta e repugnância do povo brasileiro diante do desgoverno generalizado, quase uma epidemia (pior do que a dengue) que se abateu sobre nossa gente.
Os mais velhos sabem o que é regressão política, econômica, crise de longa duração. Estamos, talvez, diante de um longo período de ajustes e correções de erros sistemáticos, necessidade imperiosa de redução significativa da corrupção, substituição da incompetência pelas boas técnicas, evolução da fraternidade universal e acima de tudo, aqui em nossa Pátria varonil, o combate à demagogia irresponsável assim como à aceitação de vontades corporativas sem discussão (trabalhadores e empreendedores).
E agora?
Felizmente a reação a partir da atuação de pessoas inacreditavelmente corajosas e competentes viabiliza a esperança de cura dessas endemias que, de tão fortes, parecem epidemias novas e desconhecidas no início do terceiro milênio de gente que hoje existe em oito e meio milhões de quilômetros quadrados. Compete aos estudiosos mais geniais e cultos escrever, fazer análises e diagnósticos.
Precisamos, contudo, continuar a existir e evoluir.
O pesadelo da perda de confortos e privilégios deve afetar o cérebro de muita gente, quem sabe provocando amnésia. As doenças mais insidiosas costumam ter sequelas imediatas, de médio e longo prazo.
É assustador ver autênticas campanhas a favor da intervenção militar. E depois? Quem poderá gerenciar o Brasil nos inúmeros detalhes que necessita? O nosso país cresceu. Nada de semelhante a 1964 quando a Humanidade polarizada entre comunistas e capitalistas vertia sangue e ignorância. O mundo atual é absolutamente diferente.
A mídia negativa contra o nosso povo é impressionante, o que pretende essa gente? Aliás é extremamente oportuno ler os livros sobre o imperialismo onde a mídia comercial é simples instrumento, assim como o patrocínio de muitos políticos famosos (destaque para (1)). O tema mereceu muitas abordagens de Umberto Eco (2) num cenário internacional.
Com certeza muitas potências militares e econômicas sonham com a desagregação desse imenso e potencialmente poderoso Brasil.
Maravilhosamente sentimos os melhores efeitos da opinião pública, que estimula a principal instituição nacional, o Poder Judiciário e seus instrumentos coercitivos ou não, reagindo aos efeitos da cloaca aberta pelos MPs, Polícia Federal, GAECOs, tribunais e, com certeza, às redes sociais, internet, mídia instantânea, acessibilidade até física ao meio ambiente de países mais desenvolvidos etc. A censura é inútil e não existe caudilho que a possa tornar eficaz num território de dimensões continentais.
O Brasil e os brasileiros estão no alvorecer de uma nova era que, como qualquer parto, cobra dores e riscos. A operação Lava Jato e seus autores e mentores merecem a paternidade desse renascimento.
Será, com certeza, um Brasil melhor. Finalmente poderemos acreditar no futuro. Nossos descendentes serão gratos a todos se resistirmos aos remédios rápidos e perigosos, perigosíssimos quando podem provocar violências incontroláveis.
O tempo passa. Precisamos de paciência e continuar manifestando apoio ao Poder Judiciário. É o único caminho sensato para um avanço de qualidade positiva. O resto será mais uma onda com características de maremoto. Recua, avança e destrói tudo.
Chegaríamos a esse ponto trágico, mas necessário, mais cedo ou mais tarde: a conscientização dos efeitos da corrupção, da alienação e do desprezo pela gente brasileira. Isso vem das origens dos tempos que não passavam e a falta de educação cívica será, durante muito tempo, um pesadelo entre nós.
É bom viver, mas não existem atalhos; as revoluções mais sangrentas que o digam em todos os lugares da Terra.
Uma grande nação é equivalente a um tremendo navio, incapaz de fazer curvas imediatas em curto espaço, em grande velocidade. O Titanic fez história.
Acreditemos na evolução da Justiça, assim ganharemos um país razoável aqui na nossa terrinha.

Feliz a saudável 2016 a todos de boa vontade e crentes no Brasil.

Cascaes
31.12.2015

1. Amorim, Paulo Henrique. O Quarto Poder, uma outra história. s.l. : hedra, 2015.

2. Eco, Umberto. número ZERO. 

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