Panaceias insensatas – feliz ano novo
Nada mais justa que a tremenda revolta e repugnância do povo
brasileiro diante do desgoverno generalizado, quase uma epidemia (pior do que a
dengue) que se abateu sobre nossa gente.
Os mais velhos sabem o que é regressão política, econômica,
crise de longa duração. Estamos, talvez, diante de um longo período de ajustes e
correções de erros sistemáticos, necessidade imperiosa de redução significativa
da corrupção, substituição da incompetência pelas boas técnicas, evolução da fraternidade
universal e acima de tudo, aqui em nossa Pátria varonil, o combate à demagogia
irresponsável assim como à aceitação de vontades corporativas sem discussão
(trabalhadores e empreendedores).
E agora?
Felizmente a reação a partir da atuação de pessoas
inacreditavelmente corajosas e competentes viabiliza a esperança de cura dessas
endemias que, de tão fortes, parecem epidemias novas e desconhecidas no início
do terceiro milênio de gente que hoje existe em oito e meio milhões de
quilômetros quadrados. Compete aos estudiosos mais geniais e cultos escrever,
fazer análises e diagnósticos.
Precisamos, contudo, continuar a existir e evoluir.
O pesadelo da perda de confortos e privilégios deve afetar o
cérebro de muita gente, quem sabe provocando amnésia. As doenças mais
insidiosas costumam ter sequelas imediatas, de médio e longo prazo.
É assustador ver autênticas campanhas a favor da intervenção
militar. E depois? Quem poderá gerenciar o Brasil nos inúmeros detalhes que
necessita? O nosso país cresceu. Nada de semelhante a 1964 quando a Humanidade
polarizada entre comunistas e capitalistas vertia sangue e ignorância. O mundo
atual é absolutamente diferente.
A mídia negativa contra o nosso povo é impressionante, o que
pretende essa gente? Aliás é extremamente oportuno ler os livros sobre o
imperialismo onde a mídia comercial é simples instrumento, assim como o
patrocínio de muitos políticos famosos (destaque para (1) ).
O tema mereceu muitas abordagens de Umberto Eco (2) num cenário
internacional.
Com certeza muitas potências militares e econômicas sonham
com a desagregação desse imenso e potencialmente poderoso Brasil.
Maravilhosamente sentimos os melhores efeitos da opinião
pública, que estimula a principal instituição nacional, o Poder Judiciário e
seus instrumentos coercitivos ou não, reagindo aos efeitos da cloaca aberta
pelos MPs, Polícia Federal, GAECOs, tribunais e, com certeza, às redes sociais,
internet, mídia instantânea, acessibilidade até física ao meio ambiente de
países mais desenvolvidos etc. A censura é inútil e não existe caudilho que a
possa tornar eficaz num território de dimensões continentais.
O Brasil e os brasileiros estão no alvorecer de uma nova era
que, como qualquer parto, cobra dores e riscos. A operação Lava Jato e seus
autores e mentores merecem a paternidade desse renascimento.
Será, com certeza, um Brasil melhor. Finalmente poderemos
acreditar no futuro. Nossos descendentes serão gratos a todos se resistirmos
aos remédios rápidos e perigosos, perigosíssimos quando podem provocar
violências incontroláveis.
O tempo passa. Precisamos de paciência e continuar
manifestando apoio ao Poder Judiciário. É o único caminho sensato para um
avanço de qualidade positiva. O resto será mais uma onda com características de
maremoto. Recua, avança e destrói tudo.
Chegaríamos a esse ponto trágico, mas necessário, mais cedo
ou mais tarde: a conscientização dos efeitos da corrupção, da alienação e do desprezo
pela gente brasileira. Isso vem das origens dos tempos que não passavam e a
falta de educação cívica será, durante muito tempo, um pesadelo entre nós.
É bom viver, mas não existem atalhos; as revoluções mais
sangrentas que o digam em todos os lugares da Terra.
Uma grande nação é equivalente a um tremendo navio, incapaz
de fazer curvas imediatas em curto espaço, em grande velocidade. O Titanic fez
história.
Acreditemos na evolução da Justiça, assim ganharemos um país
razoável aqui na nossa terrinha.
Feliz a saudável 2016 a todos de boa vontade e crentes no
Brasil.
Cascaes
31.12.2015
1. Amorim, Paulo Henrique. O Quarto Poder,
uma outra história. s.l. : hedra, 2015.
2. Eco, Umberto.
número ZERO.