quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Caprichos e vaidades caras

Monumentabilidade, Dignidade, Eficácia e Justiça Social
O tempo é o espaço que usamos para aprender...
Na década de setenta do século 20, último milênio, em desespero pelo péssimo atendimento aos professores e alunos, acima de tudo irritado com a demora absurda em receber pagamento ridículo por aula “dada” no Centro Politécnico da UFPR, decidi fazer greve, no que tive o apoio dos alunos e de alguns colegas (dois).
Tempos difíceis, pedi aos alunos que deixassem a luta comigo. Os dois colegas logo desistiram, medo?
Antes ou depois estive na sala do chefe do departamento, se não me engano. Fiquei surpreso com o tamanho e decoração daquele salão dedicado a uma gerência ineficaz, 1974. Na Reitoria entrei em conflito com o Magnífico Reitor, queria que procurasse a mesma pessoa que nos 18 meses e muitas semanas antes não conseguira nada de razoável.
Desisti de ser professor na UFPR.
No CEFET em uma semana após convite estava com a carteira profissional assinada, 1977. Tempos do Professor Ivo Mezzadri...
O Brasil fez Brasília. Cidade monumental, patrimônio da Humanidade, infelizmente agora símbolo da pior democracia possível. Ou melhor, na América Latina essa “honra” talvez caiba a algum país Hermano.
Ganhamos a redemocratização e uma Constituição Federal poética e feita ao gosto e medida de quem sonhava com uma ditadura de esquerda ou direita.
O resultado está aí.
Nessa “evolução” entronizamos o crime organizado. Nunca os bandidos ricos gozaram de tantos artifícios e privilégios quanto nesses “tempos modernos”.
E os crimes clássicos?
Execuções e chacinas se transformaram em rotina, contidas a muito custo nesses últimos anos. Parecia que nada faria reverter este quadro assustador. No Paraná o Governo atual investiu o que podia. Infelizmente faltou dinheiro, vítima de uma distribuição absurda da receita fiscal; tanto ele quanto os municípios paranaenses dependem de Brasília para qualquer aprimoramento. Ou seja, quem dominar a cabeça da imensa sucuri enrolada em torno do Planalto terá condições de decidir sobre a qualidade dos serviços essenciais, creches e escolas, universidades e hospitais, segurança, saneamento básico, inclusive a manutenção ou não das APAEs, ONGs e shows metaleiros no Brasil, os prefeitos podem pouco e os governadores sonham com a Presidência da República.
Festas e teatro? O Brasil promove carnavais, campeonatos de gladiadores, feriados em profusão etc.
Afinal a propaganda das grandes estatais precisa investir em algo que promova a alegria popular; os projetos “sociais” dependem das tetas federais devidamente mamadas onde convier a estrategistas ocultos.
A pena de morte é rotina, existe, mata jovens em lutas por espaços das formiguinhas do crack, cocaína, maconha etc.
Crimes convencionais aparecem em manchetes, viram notícias mundiais, tudo dependendo se os assassinos matam ou não algo mais que meia dúzia de pessoas.
E a condenação à morte por efeito de greves e maus serviços? Milhões de brasileiros e de brasileiras de todas as idades perdem expectativa de vida, sobrevivem mal, são mal educados porque temos o império de corporações incrivelmente egoístas. Junte-se tudo à ignorância funcional do nosso povo e entenderemos o desgoverno impressionante que criamos.
Deveríamos ter uma contabilidade da letalidade e custos criados pelas corporações mais fortes.
Se os milionários e até a classe média conseguem alternativas, os mais pobres simplesmente veem consultas médicas, bloqueios de armazém e a possibilidade até de encontrar uns míseros empregos travados por não poderem gastar tostões.
Temos “Instituições” sagradas.
O Poder Judiciário é essencial à Democracia. Nada mais importante do que a garantia de se viver em um estado de liberdade, fraternidade e igualdade. Isso existe?
Somos humanos com uma influência fortíssima remanescente dos tempos do Império. As monarquias aconteciam e ainda persistem em alguns países como fonte de renda turística ou governos reais, sempre lastreando a aceitação de suas presenças em tremendas pompas e luxos, além de assessorias eclesiásticas e outras dessa espécie.
Assim vimos aqui no Paraná a preocupação com o prédio do Tribunal de Justiça. Entre as justificativas para uma reforma (AMANDA AUDI, 2013) quase tão cara quanto o famoso e talvez útil viaduto (Viaduto estaiado? Vai pra ponte que partiu…, 2012) estaiado no sul de Curitiba está a de devolver a monumentabilidade da sede do Judiciário. Para quê? Se mais modestos e concentrados no essencial, quanto custariam? Os dois projetos têm um defeito grave num país onde falta dinheiro para a construção e manutenção de creches e de postos de saúde: são prioritários quando investem em detalhes onerosos e pouco úteis?
Precisamos de obras físicas para respeitar o Poder Judiciário?
Queremos ter orgulho do Poder Judiciário por sua eficácia e qualidades éticas.
Grandes profetas e líderes filosóficos da Humanidade entraram para a História da Humanidade com suas palavras e exemplos. Outros personagens poderosos se mantêm na nossa memória de turista graças a túmulos gigantescos. Com certeza o viajante sempre ávido por fotografias “padrão eu estou aqui” procura e valoriza coisas como pirâmides e palácios imponentes. Múmia rica e nobre perdulário dá prestígio para qualquer deserto ou floresta (bosque) e agora enriquece álbuns de fotografias. Obras monumentais enfeitam cidades, e o conteúdo delas também?
A evolução de qualquer sociedade humana acontece lentamente. Quando forçada reflui, viabilizando personalidades perigosas e extravagantes no comando de nações confusas e distantes dos direitos justos e humanos.
O exercício da democracia, do respeito mútuo e do amor ao próximo demandam muito mais do que orações e obras monumentais.
A esperança é a de que novos padrões de educação tenham bons resultados. As gerações de brasileiros e de brasileiras mais velhas estão perdidas, ou não?
Teremos algum dia um Brasil com um bom padrão de vida e dignidade entre todos os seus habitantes?

Cascaes
25.9.2013

Viaduto estaiado? Vai pra ponte que partiu…. (5 de 6 de 2012). Fonte: Gazeta do Povo: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/viaduto-estaiado-vai-pra-ponte-que-partiu/
AMANDA AUDI, C. M. (23 de 9 de 2013). Em último ato, Camargo retoma licitação de R$ 80 mi para reforma do TJ-PR. Fonte: Gazeta do Povo: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1410982&tit=&tit=Em-ultimo-ato-Camargo-retoma-licitacao-de-R-80-mi-para-reforma-do-TJ-PR



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