Monumentabilidade, Dignidade, Eficácia e Justiça Social
O tempo é o espaço que usamos para aprender...
Na década de setenta do século 20, último milênio, em
desespero pelo péssimo atendimento aos professores e alunos, acima de tudo
irritado com a demora absurda em receber pagamento ridículo por aula “dada” no
Centro Politécnico da UFPR, decidi fazer greve, no que tive o apoio dos alunos
e de alguns colegas (dois).
Tempos difíceis, pedi aos alunos que deixassem a luta
comigo. Os dois colegas logo desistiram, medo?
Antes ou depois estive na sala do chefe do departamento, se
não me engano. Fiquei surpreso com o tamanho e decoração daquele salão dedicado
a uma gerência ineficaz, 1974. Na Reitoria entrei em conflito com o Magnífico
Reitor, queria que procurasse a mesma pessoa que nos 18 meses e muitas semanas
antes não conseguira nada de razoável.
Desisti de ser professor na UFPR.
No CEFET em uma semana após convite estava com a carteira
profissional assinada, 1977. Tempos do Professor Ivo Mezzadri...
O Brasil fez Brasília. Cidade monumental, patrimônio da
Humanidade, infelizmente agora símbolo da pior democracia possível. Ou melhor,
na América Latina essa “honra” talvez caiba a algum país Hermano.
Ganhamos a redemocratização e uma Constituição Federal
poética e feita ao gosto e medida de quem sonhava com uma ditadura de esquerda
ou direita.
O resultado está aí.
Nessa “evolução” entronizamos o crime organizado. Nunca os
bandidos ricos gozaram de tantos artifícios e privilégios quanto nesses “tempos
modernos”.
E os crimes clássicos?
Execuções e chacinas se transformaram em rotina, contidas a
muito custo nesses últimos anos. Parecia que nada faria reverter este quadro
assustador. No Paraná o Governo atual investiu o que podia. Infelizmente faltou
dinheiro, vítima de uma distribuição absurda da receita fiscal; tanto ele
quanto os municípios paranaenses dependem de Brasília para qualquer
aprimoramento. Ou seja, quem dominar a cabeça da imensa sucuri enrolada em
torno do Planalto terá condições de decidir sobre a qualidade dos serviços
essenciais, creches e escolas, universidades e hospitais, segurança, saneamento
básico, inclusive a manutenção ou não das APAEs, ONGs e shows metaleiros no
Brasil, os prefeitos podem pouco e os governadores sonham com a Presidência da
República.
Festas e teatro? O Brasil promove carnavais, campeonatos de
gladiadores, feriados em profusão etc.
Afinal a propaganda das grandes estatais precisa investir em
algo que promova a alegria popular; os projetos “sociais” dependem das tetas
federais devidamente mamadas onde convier a estrategistas ocultos.
A pena de morte é rotina, existe, mata jovens em lutas por
espaços das formiguinhas do crack, cocaína, maconha etc.
Crimes convencionais aparecem em manchetes, viram notícias
mundiais, tudo dependendo se os assassinos matam ou não algo mais que meia
dúzia de pessoas.
E a condenação à morte por efeito de greves e maus serviços?
Milhões de brasileiros e de brasileiras de todas as idades perdem expectativa
de vida, sobrevivem mal, são mal educados porque temos o império de corporações
incrivelmente egoístas. Junte-se tudo à ignorância funcional do nosso povo e
entenderemos o desgoverno impressionante que criamos.
Deveríamos ter uma contabilidade da letalidade e custos
criados pelas corporações mais fortes.
Se os milionários e até a classe média conseguem
alternativas, os mais pobres simplesmente veem consultas médicas, bloqueios de
armazém e a possibilidade até de encontrar uns míseros empregos travados por
não poderem gastar tostões.
Temos “Instituições” sagradas.
O Poder Judiciário é essencial à Democracia. Nada mais
importante do que a garantia de se viver em um estado de liberdade,
fraternidade e igualdade. Isso existe?
Somos humanos com uma influência fortíssima remanescente dos
tempos do Império. As monarquias aconteciam e ainda persistem em alguns países
como fonte de renda turística ou governos reais, sempre lastreando a aceitação
de suas presenças em tremendas pompas e luxos, além de assessorias
eclesiásticas e outras dessa espécie.
Assim vimos aqui no Paraná a preocupação com o prédio do
Tribunal de Justiça. Entre as justificativas para uma reforma (AMANDA AUDI, 2013) quase tão cara quanto
o famoso e talvez útil viaduto (Viaduto estaiado? Vai pra ponte que partiu…, 2012) estaiado no sul de
Curitiba está a de devolver a monumentabilidade da sede do Judiciário. Para
quê? Se mais modestos e concentrados no essencial, quanto custariam? Os dois
projetos têm um defeito grave num país onde falta dinheiro para a construção e
manutenção de creches e de postos de saúde: são prioritários quando investem em
detalhes onerosos e pouco úteis?
Precisamos de obras físicas para respeitar o Poder
Judiciário?
Queremos ter orgulho do Poder Judiciário por sua eficácia e
qualidades éticas.
Grandes profetas e líderes filosóficos da Humanidade
entraram para a História da Humanidade com suas palavras e exemplos. Outros
personagens poderosos se mantêm na nossa memória de turista graças a túmulos
gigantescos. Com certeza o viajante sempre ávido por fotografias “padrão eu
estou aqui” procura e valoriza coisas como pirâmides e palácios imponentes. Múmia
rica e nobre perdulário dá prestígio para qualquer deserto ou floresta (bosque)
e agora enriquece álbuns de fotografias. Obras monumentais enfeitam cidades, e
o conteúdo delas também?
A evolução de qualquer sociedade humana acontece lentamente.
Quando forçada reflui, viabilizando personalidades perigosas e extravagantes no
comando de nações confusas e distantes dos direitos justos e humanos.
O exercício da democracia, do respeito mútuo e do amor ao
próximo demandam muito mais do que orações e obras monumentais.
A esperança é a de que novos padrões de educação tenham bons
resultados. As gerações de brasileiros e de brasileiras mais velhas estão
perdidas, ou não?
Teremos algum dia um Brasil com um bom padrão de vida e
dignidade entre todos os seus habitantes?
Cascaes
25.9.2013
Viaduto estaiado? Vai pra ponte que partiu…. (5 de 6 de 2012). Fonte: Gazeta do Povo:
http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/viaduto-estaiado-vai-pra-ponte-que-partiu/
AMANDA AUDI, C. M. (23 de 9 de 2013). Em último
ato, Camargo retoma licitação de R$ 80 mi para reforma do TJ-PR. Fonte:
Gazeta do Povo: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1410982&tit=&tit=Em-ultimo-ato-Camargo-retoma-licitacao-de-R-80-mi-para-reforma-do-TJ-PR
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