Debates políticos e o eleitor
Nossos hábitos ultramarinos levam-nos a criar regras e leis
gerais para se evitar pecados individuais. Qualquer contrariedade de algum
chefe se transforma em norma para todos. A cultura brasileira, aliás, do ser
humano em geral, valoriza rituais, padrões, carimbos etc. e despreza a essência
dos fatos e comportamentos, levando à criação de leis, decretos, regulamentos,
normas etc. que ao final acabam causando mais prejuízos do que benefícios.
Afinal quem tem poder sabe usar tudo isso a seu favor e essa parafernália legal
desaba sobre o cidadão comum.
As leis eleitorais intrigam, são feitas a favor de quem?
As campanhas eleitorais no Brasil poderão convergir para uma
rigidez cadavérica e de pouco valor. Conhecer os candidatos, apesar de tantos
recursos de comunicação existentes, é difícil e um bom exemplo disso são os
debates, pouco elucidativos, pois detalhes importantes não podem aparecer, como
seria o caso se ao contrário de moderadores tivéssemos apenas um juiz para
evitar agressões físicas (queremos um ringue televisivo para lutas de planos,
ideias, propostas etc. e também para avaliações recíprocas). Para os casos de
injúria e calúnia bastaria existir um tribunal especial que julgasse de
imediato o que fosse dito.
A realidade é que votamos sem saber detalhes eventualmente
importantes, que deveriam aparecer durante o processo eleitoral.
E os debates entre os candidatos ao cargo de vice-prefeito? São
importantes.
Quando o prefeito disputa reeleição é quase certo que na
próxima eleição, se for bem sucedido nas disputas internas do seu partido,
estará pleiteando um cargo que lhe garanta mais quatro ou oito anos de mandato.
Isso transforma o companheiro de chapa em um cidadão que deverá governar a
cidade por dois ou seis anos. Quem são eles?
O desconhecimento é ampliado estratosfericamente na disputa
para a Câmara de Vereadores.
De nossos eleitores as pesquisas, por sua vez, poderiam ser
mais eficazes classificando os brasileiros por um conjunto de características.
Qualificá-los pelo nível de renda é um reducionismo (para usar a afetação
acadêmica) exasperante. Cidade a cidade seria importante conhecer melhor seus
cidadãos. Institutos de pesquisa mais maduros poderiam organizar suas consultas
sobre detalhes mais completos, o que talvez façam e não divulguem para a
“plebe”. Quem perde com isso é a imprensa comum quando usa como indicadores o
que temos de conhecimento geral, dando a falsa impressão de que limites de
renda, por exemplo, indiquem grau de educação política e competência técnica
para distinguir um candidato de outro qualquer.
Analistas e formadores de opinião precisam ter cuidado. Os
riscos de comentários qualificativos mergulham inclusive na avaliação de
administrações passadas, extremamente diversas não só pela composição das
equipes que administraram as cidades quanto pelos cenários sócio econômicos,
detalhes que variaram tremendamente em nosso país ao longo do século vinte e
início do atual (vinte e um).
Estamos por enquanto mais na fase de vigilância às regras do
jogo político. Seria fundamental podermos contar com avaliações técnicas e
culturais dos candidatos, algo que algumas entidades começam a levar a sério,
ótimo! Parabéns ao trabalho do Jornal Gazeta do Povo (Paraná) com seu portal http://www.gazetadopovo.com.br/votoconsciente
, sempre insistindo na educação política de nosso povo.
Devemos evitar equívocos que entronizem mensaleiros, estamos
vendo a força de cachoeiras e bases mal construídas. A corrupção no Brasil
atingiu um patamar absurdo. Para reduzi-la o primeiro passo é eleger prefeitos
e vereadores honestos, se possível... A competência técnica não pode ser
desprezada assim como a capacidade política e administrativa em geral. Não é
pouco e tantas avaliações mereceriam maior exposição dos candidatos, quem sabe
usando as famosas TVs e rádios denominadas “educativas” em tempo integral para
apresentação maior e melhor dos candidatos, afinal é o contribuinte que mantém
essas emissoras.
Carecemos de educação política, uma tragédia brasileira!
Educar para votar com uma base ampla e objetiva é um tremendo desafio. Os
resultados de nossa ignorância não param de aparecer em escândalos
inacreditáveis.
Cascaes
5.8.2012
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