O que nosso povo perdeu e pode ganhar
O jornalista deve descobrir palavras e expressões que as pessoas entendam. Assim é normal na imprensa norte-americana, por exemplo, usar a altura do “Empire State Building” ou alguma outra referência conhecida para ilustrar o tamanho do que se anuncia. Essa maneira de falar e escrever diz mais do que simplesmente apresentar números com muitos zeros; o leitor, o telespectador ou o radiouvinte simplesmente se confunde e o esforço/cansaço mental leva-o a apagar a mensagem.
Avaliar situações é, contudo, extremamente importante. Qual o custo disso ou daquilo? Compare, sinta e decida, assim é que se exerce a democracia quando se deve praticar a cidadania.
No Brasil a corrupção e a desonestidade dentro e fora do Governo constituem um problema extremamente preocupante.
Ficamos sabendo, por exemplo, que dentro da administração pública o prejuízo acumulado nesses últimos dez anos pode ser em torno de quarenta bilhões de reais (Salomão), isso sem falar de perdas operacionais por obras e serviços mal feitos.
O povo brasileiro perdeu o equivalente a 2.000.000 (dois milhões) de casas populares que abrigariam a população de uma cidade do tamanho de São Paulo (isso se essas casas fossem doadas a seus moradores, o que não costuma acontecer) ou algo suficiente para comprar e distribuir mais de 180.000 ônibus escolares (cento e oitenta mil), “ônibus reforçado grande, também adequado para vias precárias, transporta até 59 alunos sentados e custa R$ 212 mil” (FNDE, 2010).
Esse valor, quarenta bilhões de reais, é quase quatro vezes o que o Brasil deverá gastar e investir para sediar a Copa de 2014 (Vale a pena ser sede da Copa 2014?).
Com certeza os trabalhadores rurais estariam infinitamente melhores se isso tudo tivesse sido aplicado em seus programas...
A sonegação de impostos é o outro lado do pesadelo brasileiro. De vez em quando ficamos sabendo de flagrantes impressionantes.
O tamanho dos crimes apontados pela “Operação Alquimia” tem aspectos notáveis e detalhes diferentes. O que surpreende neste caso é o tratamento vip dado aos possíveis criminosos. Pouco se disse até agora sobre quem são. Não vimos algemas. Ninguém apareceu entrando em camburão. Vale comparar isso com os noticiários policiais de rotina, onde o possível ladrãozinho (meliante no jargão policial) é escrachado antes de qualquer julgamento formal. Mais ainda, algo completamente diferente do que apareceu ferozmente em torno do próprio governo, contra quem o noticiário tem sido duríssimo, o que até é bom, pois está viabilizando uma faxina exemplar.
Podemos, também, pensar se a carga fiscal é correta e obriga os empreendedores a agir de forma desonesta... A defesa é algo que os prepostos desses sonegadores deverão estruturar, nós simplesmente ficamos perplexos com a dimensão do “esquema” e com o tempo extraordinariamente longo entre a primeira suspeita e os dias atuais e a falta de ações que teriam evitado a ampliação do crime (inclusive ajustes na legislação existente).
Vamos, de qualquer maneira, perdendo sensibilidade para delitos e valores, pois só em torno de algumas atividades federais o rombo poderá ter sido muito maior, de forma direta ou indireta, como tem sido sugerido em notícias sobre os escândalos mais recentes.
Felizmente parece que a Humanidade está descobrindo o custo das espertezas, que estão levando o “mundo” ao caos financeiro e mostrando um pesadelo econômico monumental. A globalização da sacanagem dentro de um “laissez faire” absurdo, via cassinos com nomes sofisticados, explode sobre nações inteiras, criando desemprego e desesperança.
O livro “Sobre a Revolução” (Arendt, 2011), como é justo, gasta algumas páginas conceituando o verbete “revolução”. Dele até podemos perguntar: estamos voltando ao início de um período de maior respeito ao ser humano? Isso existiu? Teremos revoluções, novas regras econômicas, políticas e sociais? É até interessante ver o medo na expressão de nossas autoridades...
No Brasil só podemos e devemos aplaudir o Governo Dilma Rousseff, apesar de algumas declarações ambíguas, quando promove uma faxina exemplar. Fale o que quiser, o fundamental é refazer procedimentos, regras, leis e costumes. Aliás, esperamos que nossas leis sejam aprimoradas a favor do Brasil.
Nosso povo mais esclarecido está cansando de ser enganado, falta o resto.
Cascaes
20.8.2011
Arendt, H. (2011). Sobre a Revolução. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda.
FNDE, A. d. (23 de 04 de 2010). Ônibus escolares já têm seus preços definidos para compra. Fonte: Ministério da Educação: http://portal.mec.gov.br/index.php?id=15350&option=com_content&view=article
Grangeia, M. (s.d.). Vale a pena ser sede da Copa 2014? Fonte: Planeta Sustentável: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_269590.shtml
Salomão, A. (s.d.). Corrupção engoliu 40 bilhões de reais da infraestrutura. Fonte: Aqui no Brasil: http://exame.abril.com.br/blogs/aqui-no-brasil/2011/08/17/corrupcao-engoliu-40-bilhoes-de-reais-da-infraestrutura/
Nenhum comentário:
Postar um comentário